quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Natal Animado 2012



Acompanhe os vídeos do projeto palavrAnimada no blog:
http://projetopalavranimada.blogspot.com.br/

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Uma mãe, muitas mães

Quem tem ou teve um parente idoso, que por conta de uma degeneração das células cerebrais, doença de Alzheimer ou outra que cause declínio das funções mentais / intelectuais, vai se identificar.
[Ai, que nó na garganta...]

"Não se viam há alguns anos. Em casa, a mãe não reconheceu o apartamento, girou pelo banheiro procurando pertences pessoais (que concluiu terem sido roubados) olhou para a filha e perguntou: "Qual é o seu nome?". 
Pega de surpresa, a filha ficou um pouco aflita, sem saber o que fazer. Diante da confusão da mãe, entristeceu. 
Não era mais filha, e sim uma estranha. A mãe que conhecia não era a mesma.
Então se deu conta de que tivera várias mães ao longo da vida. A que a gerou e deu à luz; a que a alimentou, criou e educou; a que a filha achava chata porque vivia empatando suas paqueras e liberdade; a que pegava no seu pé pra estudar e ter uma carreira; a mãe que cozinhava como ninguém; a que a ia buscar na escola e, na volta, mudava o caminho, pelo meio de um bosque, pra ter um gosto de aventura; a que a abraçava quando ela tinha medo; a que a consolava quando estava triste; a que contava histórias... Todas aquelas mães estavam ali, em algum lugar daquela encurvada e emagrecida senhora. A filha se deu conta de que amava cada uma delas de um jeito, e todas juntas de um jeito único. Como se um exército de mães de repente se condensasse um uma única pessoa, que mantinha viva a esperança de resgatá-las. Abraçou a mãe (na verdade, todas elas) pediu desculpas pela pouca paciência. Chorou. Respirou fundo... Sabia que teria, pela frente, "uma última mãe" por conhecer."  (Copyright Célia Cris Silva, 2012)

terça-feira, 24 de julho de 2012

Dia do escritor

Dia 25 de julho é o dia do escritor / autor.
Quero agradecer aqui aos meus leitores, que me validam como escritora. Sempre digo que um escritor nasce quando o que ele escreve é lido.
[De nada adianta um livro publicado e trancado ou fechado numa prateleira.]
Cada vez que me leem, eu renasço. E assim me fortaleço escritora.
Aos amigos, familiares e leitores o meu muito obrigada.
Nossa jornada autoral está apenas começando...
Tem sido muita luta, muita semeadura e muita espera pela colheita... Mas ela virá, com certeza!!!
Obrigada!

terça-feira, 10 de julho de 2012

Recado da chuva...

"Amigos são anjos na terra..." Não me lembro de quem é a frase, mas ela é verdadeiríssima!
Minha amiga [quase irmã], Lúcia Munis, é professora e uma grande fã do meu trabalho.
Foi graças a ela que vivi um dos momentos mais marcantes como escritora, no dia em que visitei a escola em que ela fundou uma sala e um clube de leitura.
Estive com Lucinha há poucos dias e ouvi um relato que me emocionou.
Ela programou a leitura do livro "Recado da chuva" (Editora Vida & Consciência) com turmas de 3o ano. Mas a leitura só aconteceria num dia de chuva. A classe acompanhou a previsão do tempo durante dias até que, finalmente, a previsão anunciou uma terça-feira chuvosa.
São Pedro, camarada, seguiu a programação e a chuva desabou sobre a cidade de São Paulo.
 Lucinha providenciou bolinhos de chuva, chá, e foi para a escola.
As crianças estavam em polvorosa. Conversaram sobre a chuva, foram até a janela para sentir a chuva, mas olhares e gestos pediam história.
Livro em mãos, Lucinha começou a leitura.
Professora e alunos se emocionaram. [Imaginem, então, a escritora, enquanto ouvia a narrativa!]
As crianças comeram os bolinhos e falaram sobre os sentimentos que a chuva faz aflorar.
Depois foi a vez dos professores. Dupla emoção!
Resultado: Agora o livro tem fila de espera para ser lido, tanto por alunos quanto por professores!!!
O que posso dizer a essa criatura, que divulga a literatura e o meu trabalho, senão OBRIGADA?
É por conta de professoras como ela que pessoas como eu podem se dizer escritoras.
É por conta de professoras como ela que acredito no poder da mudança.
É por conta de professoras como ela que continuo escrevendo.
É por conta de professoras como Lucinha que tenho fé na educação...

OBRIGADA!

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Neil Postman, Platão, a tecnologia e a escrita

Li recentemente um livro de Neil Postman - O desaparecimento da infância - que achei genial. O autor lançou mais de 20 livros analisando a relação entre tecnologia, cultura, educação e infância. (É uma pena que ele já tenha partido para o andar de cima). Gostei muito de seu discernimento e  procurei mais textos e informações sobre Postman. Acabei encontrando ensaios e artigos de outros autores sobre ele, também interessantes. Posto aqui uma análise de Fernando Teófilo sobre o livro Technopoly, de Neil Postman, que me remeteu à forma como os estudantes se relacionam com a escrita na era digital - nas redes sociais, no Twitter, via SMS e outros quetais. Tem a ver com as ideologias que são passadas por meio do que vemos e lemos. O que destaquei em negrito é justamente a parte que mais fez eco com o que penso...


"Em Technopoly Postman descreve a forma como a tecnologia se tem relacionado com a cultura, desde a era da ferramenta à tecnopolia, e avança com a terapia que julga ser a mais apropriada para contrariarmos o domínio tecnológico sobre a cultura.
No início do livro recuamos à antiguidade clássica para bebermos um pouco da sapiência dos diálogos de Sócrates, descritos por Platão no Fedro. Apresenta-nos a lenda do rei Tamuz e do seu encontro com o deus das invenções Thoth. Esta história mostra-nos que o dilema provocado hoje pela tecnologia não é de agora. Questionar os benefícios ou os malefícios da tecnologia é já actividade antiga.

'Um dia o rei Tamuz recebeu o deus Thoth, inventor, entre muitas outras coisas, da escrita.
Segundo o deus Thoth cada uma das suas invenções, particularmente a escrita, iriam tornar Tamuz um rei reconhecido e indispensável para o seu povo. No entanto, o rei quis saber da utilidade de cada uma das invenções, por exemplo, da escrita. Para Thoth a escrita era a maior façanha de todas, aquela que iria melhorar tanto a sabedoria como a memória do povo. Tamuz retorquiu que o inventor de uma arte não pode ser o melhor a ajuizar sobre o bem ou mal que esta provocará a quantos a aplicarem.'

Muitas vezes em vez do bem que se anuncia é o mal que chega. Para Tamuz a escrita é disso um exemplo: aqueles que a utilizarem deixarão de exercitar a memória e tornar-se-ão esquecidos, pois confiam que a escrita lhes trará á lembrança as coisas. Esta confiança nos sinais gráficos fá-los perder a confiança nos seus próprios recursos. A escrita serve assim para rememorar e não para desenvolver a memória. É ilusória a sabedoria que se espera. Os alunos terão fama de a possuirem mas isso não corresponde à verdade pois receberão uma quantidade de informação sem a instrução adequada. Considerar-se-ão muito conhecedores mas serão bastante ignorantes. Estão cheios do conceito de sabedoria mas não de verdadeira sabedoria.
Eis como a tecnologia que se anuncia como beneficente afinal prejudica. Este é também um ponto de partida utilizado por Postman para uma crítica da influência da tecnologia sobre as culturas onde são recebidas. (...)


Segundo Postman a tecnologia efectua o seu domínio de duas formas, uma clara e outra menos perceptível porque para ele há tecnologias que são visíveis e outras invisíveis. As visíveis são aquelas que todos consideramos como tecnologia.
Exemplifica com a televisão, o automóvel e o computador.  As invisíveis não são tecnologias com forma física, não têm um mecanismo técnico observável, são todavia técnicas e métodos que de uma forma sistemática e repetida condicionam a forma como pensamos o mundo que nos rodeia. (...)"

(Para ler mais, é só seguir o link abaixo)
Fonte: http://www.bocc.ubi.pt/pag/teofilo-fernando-Postman.pdf

domingo, 10 de junho de 2012

A matemática da amizade

Compartilho com vocês o texto que escrevi para o portal Vida & Consciência, sobre amizade...


A matemática da amizade  

Ter amigos é maravilhoso, mas saber ser amigo também é importante
Por Célia Cris Silva



Há muitos anos, quando ainda era criança, ouvi uma história de origem russa que dizia o seguinte:

"Um coveiro, que estava acompanhando um grupo de pessoas no cemitério da cidade, começou a apontar os túmulos e a falar:
- Aqui jaz Sergei Serkikoff. Nasceu em 1830 e morreu em 1890. Viveu 25 anos.
- Ali jaz Svetlana Korolenko. Nasceu em 1920 e morreu em 1990. Viveu 50 anos.
- Ali jaz Anatole Lermontov. Nasceu em 1946 e morreu em 2008. Viveu 38 anos...

Antes que ele continuasse, um dos visitantes o interrompeu:
- Mas essas contas que você fez estão erradas. Essas pessoas viveram muito mais do que você está dizendo.

O coveiro, então, respondeu:
- É que o ser humano só vive realmente durante o tempo em que tem amigos."

Nunca mais consegui esquecer essa "matemática da amizade". Na época em que ouvi a história, achei-a poética e delicada, mas ainda não tinha repertório suficiente para compreender a sua profundidade.

Hoje entendo que a presença de amigos na vida de alguém pode ser um dos fatores determinantes entre morrer - efetiva ou simbolicamente, por meio do isolamento, da solidão, da apartação - e viver.

Ter amigos é maravilhoso, mas saber ser amigo também é importante. Amizade é parceria, uma "rua de mão dupla". A gente adora ser ouvido, mas será que sabe ouvir? A gente adora ser cuidado, mas será que sabe cuidar? A gente adora que se importem com a gente, mas será que se importa com os outros?

Num período em que a amizade parece estar sendo medida por quantidade, em que se deseja ter "um milhão de amigos" em determinadas redes sociais, será que somos amigos daquela pessoa que está a cinquenta metros da gente, esperando atenção, um gesto, uma palavra?

Em todas as culturas, tempos e línguas há frases sobre amizade, exaltando sua importância, falando de sua necessidade na vida das pessoas. Dizem que amigos são parentes que a gente escolhe, que se conhece o amigo na necessidade, que amigos são anjos, que amigos são partes de nós que um dia se desprenderam e que reencontramos, que amizades verdadeiras nunca acabam, que a amizade é como uma planta que necessita ser cultivada... O filósofo Cícero chegou a dizer que "um amigo é como se fosse um segundo eu".

Eu me pergunto constantemente: "Como é que estou cuidando dos meus amigos?", "Que tipo de amiga tenho sido?" [Presente? Ausente? Sufocante? Alguém-com-quem-se-pode-contar? Carinhosa? Chata-mas-querida? Crítica? Mãezona? Especial? Possessiva? Boa-ouvinte? Egoísta-do-tipo-entendo-a-sua-dor-mas-a-minha-é-bem-maior?...]

É bom "discutir a relação" também com os amigos, para evitar que possíveis mágoas se instalem e criem raízes. Muitas vezes a gente nem percebe, mas uma palavra mal colocada, ou a falta de uma palavra, a falta de demonstrar que a gente se importa, a falta de ouvir o outro são fatores que podem afastar as pessoas. Não que a amizade fosse superficial, mas era, provavelmente, unilateral (uma rua de mão única).

Hoje, quando lembro daquela história russa, fico imaginando o que aquele coveiro poderia dizer se visse minha lápide, após minha partida. De uma coisa eu sei: cada momento com meus amigos, desde que me conheço por gente, tem sido precioso e intenso, com risos multiplicados, tristezas subtraídas, alegrias divididas e realizações somadas. Espero conseguir manter essa matemática por muito tempo, ainda...

Clique aqui para acessar o portal Vida & Consciência

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Estou por aqui...

Depois de tanto tempo sem postar nenhuma linha no blog, passei rapidamente pra dar um "OI" e postar mais uma foto da série "sou tiete e assumo!"
Fui assistir a uma palestra do Marcos Bagno. Pra quem não o conhece, ele é linguista, professor da UnB e autor de livros sobre a língua portuguesa falada no Brasil (o português brasileiro), sobre o preconceito linguístico e acaba de lançar uma gramática. Acho que esse homem tem um bom senso incrível, além de ser acessível e nada arrogante. Adoro! Na sessão de tietagem explícita, até passei uma cantada: disse que iria tirar uma foto bem agarrada com ele! Ele riu e disse: "Ah! Logo hoje que estou gripado". Respondi: "Não tem problema. Tomei vacina contra gripe!" Foi só risada! Ele é mesmo um querido!
Marcos Bagno e esta tiete explícita...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Adeus, Bartô!

Hoje foi um dia de perda. A literatura brasileira perdeu um ícone. Eu perdi um mestre, um ídolo. Há toda uma geração de novos escritores que elegeu Bartolomeu Campos de Queirós como um de seus grandes modelos. São os "filhos de Bartô". Eu me incluo, autônoma e espontaneamente, nessa turma.
Quando li a notícia sobre o falecimento dele, fiquei muito chocada, triste. Depois lembrei das coisas que queria ter feito enquanto ele estava por aqui, mas não fiz:
  • Não publiquei nenhum livro dele (bem que tentei).
  • Não tenho nenhum livro autografado por ele (apesar de ter vários livros dele).
  • Não assisti a todas as palestras que poderia. (Achei que teria tempo. Não tive. Ou melhor, tempo eu tive, mas faltou coragem para agir, ir, pedir, falar...)
Mesmo estando geograficamente longe, sentia-o tão perto! Minhas professoras da pós-graduação, que tiveram o prazer de conviver com ele, falavam dele, recitavam sua obra, e a cada vez que isso acontecia, ele ficava mais pertinho, quase um amigo que está na sala ao lado.
Em junho de 2011 assisti a uma palestra dele, em Curitiba, e postei minhas impressões aqui no blog. Ele estava mais magro e abatido, mas sua palavra estava mais forte que nunca.
Tirei foto com ele, no melhor estilo tiete (abençoada câmera de celular!).
Não conseguimos conversar muito, pois havia outras fãs querendo fotos e autógrafos. "Na próxima vez tenho de me lembrar de trazer os livros para ele autografar". (Agora não dá mais...)
Bartô escreveu livros que me fizeram olhar diferente para mim mesma e para o mundo. O que ele escrevia e dizia faziam (e vão continuar fazendo) todo o sentido para mim. Suas palavras impactavam, animavam, aninhavam, faziam pensar, provocavam, cutucavam, ensinavam...
Ele dizia que, quando sentia dor, escrevia. (E quanta dor esse homem deve ter sentido...)
Copio aqui um trechinho da fala dele nessa palestra, só pra dar um gostinho de quero mais:

"Pela metáfora, eu me escondo, mas ao mesmo tempo ponho asas no leitor. Vai aonde você quiser. Você está livre para romper com tudo. Acho que o leitor é tão criador quanto o escritor. O leitor cria muito. É o que o Umberto Eco fala — a estrutura ausente na obra. Você gosta de uma obra não pelo que está escrito, mas pelo lugar que ela o levou a pensar. Isso é muito interessante. Michel Foucault fala que o que lemos não é a frase que está escrita. Lemos o silêncio que existe entre as palavras. É ali que a literatura se faz. Vou falar bem francamente. Hoje, chego à conclusão de que escrevo porque quero dizer umas coisas e acho a palavra oral muito perigosa. Escrever é mais fácil do que falar. Quando escrevo e não gosto do texto, eu o rasgo. Jogo fora, apago, deleto, sumo com aquilo. Mas quando falo uma coisa errada, não recolho a palavra nunca mais. Isso me incomoda muito. Sou extremamente silencioso em minha natureza. Tenho muito medo da palavra oral. Sinto muitas vezes que as palavras me ferem ou eu firo alguém com essa palavra. Não recolho nunca mais essa palavra que cai no ouvido do outro. Talvez escreva por medo da fala." (...)

Guimarães Rosa disse que "pessoas boas não morrem, ficam encantadas".
[E se uma pessoa já fosse encantada, em vida?]
Não sei a resposta. Talvez eu descubra, um dia...
Talvez morra sem saber.
De uma coisa eu sei, Bartô: você vai fazer uma falta danada!

A transcrição integral da palestra está disponível no link:
http://rascunho.gazetadopovo.com.br/bartolomeu-campos-de-queiros/

O link para o post de junho de 2011 é: http://celiacrissilva.blogspot.com/2011/06/o-avo-do-barto.html

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Microconto pós-bariátrico

"O consumo de carboidratos fazia sua produção de insulina disparar, bloqueavam os receptores e causavam acúmulo de glicose no sangue. Carnes e verduras lhe provocavam entalo. Tinha tolerância reduzida a lactose. Começou a se alimentar de luz e se mudou para o Nordeste... Hoje vive de água de coco, mandioca, sorvete de cupuaçu e açaí."

Copyright 2012: Célia Cris Silva

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Deus e Spinoza

Spinoza foi um filósofo holandês que viveu no século 17. Tinha uma visão bastante crítica sobre religião. Sofreu uma tentativa de assassinato, foi considerado herege e excomungado por conta disso. Roseana Murray postou este texto no Facebook. Ele reflete maravilhosamente bem o que penso. Quatro séculos nos separam de Spinoza, mas o texto parece ter sido escrito esta semana, de tão atual. Vivemos numa era em que o fanatismo religioso (em diferentes lugares e culturas) ameaça  o livre-pensar, nega a diversidade e passa por cima dos direitos humanos, num triste retorno à idade das trevas. Há quem se aproveite do nome de Deus para ter poder sobre os outros, manipular as pessoas e tirar proveito delas. Concordo em gênero, número e grau com Spinoza e agradeço a Roseana pelo texto (o que está em itálico é dela):

"Deus falando com você, segundo Spinoza:

'Para de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero que faças é
que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida.

Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que
Eu fiz para ti.


Para de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo
construiste e que acreditas ser a minha casa.

Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas
praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.

Para de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo
mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade
fosse algo mau.

O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu
amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo
o que te fizeram crer.

Para de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver
comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem,
no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho... Não me
encontrarás em nenhum livro!

Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?

Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me
irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.

Para de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te
enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos,
de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te
culpar se respondes a algo que eu pus em ti?

Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês
que eu poderia criar um lugar para queimar todos os meus filhos

que não se comportem bem, pelo resto da eternidade?

Que tipo de Deus pode fazer isso?

Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são
artimanhas para te manipular, para te controlar,
que só geram culpa em ti.

Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única
coisa que te peço é que prestes atenção à tua vida,
que teu estado de alerta seja teu guia.

Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem
um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso.
Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.

Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há
pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar.
Ninguém leva um registro.

Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.
Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um
conselho. Vive como se não o houvesse.
Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de
existir. Assim, se não há nada,
terás aproveitado da oportunidade que te dei.
E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste
comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste,
se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste?

Para de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero
que acredites em mim. Quero que me sintas em ti.
Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas
tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.

Para de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja?
Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam.
Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas
relações, do mundo.Te sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria!

Esse é o jeito de me louvar.

Para de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te
ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui,
que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que
precisas de mais milagres? Para que tantas explicações?

Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro... aí é que
estou, batendo em ti'.

Einstein, quando perguntado se acreditava em Deus, respondeu:

'Acredito no Deus de Spinoza, que se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe, e não no Deus que se interessa pela sorte e pelas ações dos homens'
”.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

microconto para uma noite nublada

Olhou para o céu na esperança de admirar a lua e as estrelas, mas só viu nuvens.
Consolou-se olhando o reflexo das luzes da rua na poças de água.
Copyright © 2012 Célia Cris Silva