Caramba, como o tempo passa rápido!
Pisquei os olhos e já estamos no final de setembro.
Olho para trás, depois para frente, vejo interrogações, exclamações, reticências... Esses três pontinhos abundam em minha produção escrita e em minha vida.
Estou preocupada com o rumo das coisas. As eleições estão chegando e me assusto só de pensar no que vamos encarar... [Mais reticências]. De que adianta ter uma "visão de Thundercat", visão além do alcance, se a maioria esmagadora das pessoas parece estar cega? De que adianta ver que alguns milhares de eleitores estão indo em direção a um abismo se eles acham que estão corretos e acreditam que a escolha deles é a melhor? De que adianta ter livre arbítrio se não sabemos usá-lo?
Será que sou eu a errada? Questiono minha sanidade e minhas escolhas. Questiono meu enfado com o ramo político e também meu passado de brigas e ideais exaltados. Questiono tudo em mim. TUDO. Decisões, posturas, desafetos amealhados, orgulho besta, orgulho ferido. Simplesmente orgulho.
Junto a isso uma fase de total bloqueio criativo, que me exaspera e irrita. Droga!
Ultimamente, sou a personificação da música "Quase sem querer" do Legião Urbana (adaptada para uma versão feminina):
Tenho andado distraída
Impaciente e indecisa
E ainda estou confusa
Só que agora é diferente
(...)
Quantas chances desperdicei
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava
Provar nada pra ninguém (...)
Mas não sou mais
Tão criança, oh! oh!
A ponto de saber tudo...
Já não me preocupo
Se eu não sei por que
Às vezes o que eu vejo
Quase ninguém vê
E eu sei que você sabe
Quase sem querer
Que eu vejo
O mesmo que você...
[Talvez sejam os hormônios definhando ou a intuição que me alerta. O fato é que sinto que algo impactante está para acontecer. Só não sei se o acontecimento será direcionado em mim ou se serei afetada por algo maior, em nível coletivo. Na dúvida, é melhor começar a rezar...]
"Eu nunca fui uma moça bem-comportada. Pudera, nunca tive vocação pra alegria tímida, pra paixão sem orgasmos múltiplos ou pro amor mal resolvido sem soluços. Eu quero da vida o que ela tem de cru e de belo. Não estou aqui pra que gostem de mim. Estou aqui pra aprender a gostar de cada detalhe que tenho." (Rachel de Queiroz)
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
Miscelânea sobre leitura
Tanto tempo longe do blog... Tantas coisas acontecendo... Tantos pensamentos...
O tempo não pára para que nos adaptemos. Não pára para que o acompanhemos. Simplesmente não pára. [Sei que não se deve acentuar mais o verbo parar na terceira pessoa do singular, mas me nego a tirar o acento. É difícil aceitar essa nova ortografia ridícula pautada em interesses comerciais, que se colocam acima da filologia, da etimologia e, acima de tudo, do bom senso - sem hífen.]
Voltando...
Fui à Bienal Internacional do Livro, em agosto. Durante anos frequentei (sem trema) essa feira como editora. Ia pesquisar, avaliar a concorrência, pegar catálogos, morria de inveja dos livros maravilhosos que os outros publicavam e pensava: "Por que não fui eu que editei?"
Pois este ano fui como escritora. Pesquisei, avaliei, peguei catálogos... ponderando em que editoras eu poderia publicar meus livros. Vi obras incríveis, lindas, bem cuidadas, e outras tragicamente malfeitas, toscas, coisa de amadores. Fui entrevistada. Declarei que o Brasil ainda não é um país de leitores, mas pode se tornar, se houver políticas públicas e políticos que levem a formação de leitores e professores a sério. Minha entrevista foi colocada no Youtube junto com a propaganda eleitoral de um político que possui uma editora. No lugar de brigar com o gajo, exigirei que ele faça algo para formar leitores e não apenas eleitores, caso seja eleito. Ele não faz ideia (sem acento) do quanto posso ser chata!
Acima de tudo, observei o público. O que as pessoas leem? O que buscam? O que esperam encontrar nos livros? E o mais importante: Como leem? Atribuem realmente sentido ao que veem? [Ler é atribuir sentido ao que se vê, seja um texto, uma imagem, um gesto...]
Acima de tudo, observei o público. O que as pessoas leem? O que buscam? O que esperam encontrar nos livros? E o mais importante: Como leem? Atribuem realmente sentido ao que veem? [Ler é atribuir sentido ao que se vê, seja um texto, uma imagem, um gesto...]
Estou muito cansada da mediocridade que impera neste mundo (não apenas no Brasil) e que impede o desenvolvimento do pensamento, da criatividade, da inteligência.
Mas tenho esperança.
Cada vez que vejo uma criança prestando atenção a uma história, pegando um livro, uma HQ, me animo.
Ali está uma semente a germinar.
Daniel Pennac, em seu livro "Como um romance" fala de como os adultos conseguem matar o leitor que há em cada criança.
Conversando com minha prima, Mônica, leitora voraz desde a infância, discutimos sobre o porquê de as pessoas não conseguirem mais ler criticamente, atribuindo sentido, interpretando, tornando-se simplesmente analfabetas funcionais. O que está acontecendo?
É tão fácil cultivar um leitor: encante-o, divirta-o, incentive-o, faça-o se apaixonar pelo mundo das narrativas, ajudando-o a projetar naquele mundo tudo o que ele vive neste aqui, com a vantagem de que naquele mundo ele pode mandar e alterar as coisas. Essa é a magia das narrativas. Simples, não?
Então, por que não há mais leitores?
Encerro este post com um texto do mestre Eduardo Galeano, que fala por mim o que a leitura é capaz de fazer com um ser humano. Boa viagem...
A leitora
“Quando Lúcia Pelaez era pequena, leu um romance escondida. Leu aos pedaços, noite após noite, debaixo do travesseiro. Lúcia havia roubado o romance da biblioteca de cedro onde seu tio guardava os livros preferidos.
Muito caminhou Lúcia, enquanto passavam-se os anos. Na busca de fantasmas, caminhou pelos rochedos sobre o rio Antióquia e na busca de gente caminhou pelas ruas das cidades violentas.
Muito caminhou Lúcia, e ao longo do seu caminhar ia sempre acompanhada pelos ecos daquelas vozes distantes que ela tinha escutado, com seus olhos, na infância.
Lúcia não tornou a ler aquele livro. Ela não o reconheceria mais. O livro cresceu tanto dentro dela que agora é outro. Agora é dela.”
GALEANO, Eduardo. Mulheres. Porto Alegre: L&PM. 2004.
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