sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Decisões de ano novo

Ano após ano segui rituais:
  • usar branco para paz, rosa para amor, amarelo para dinheiro, vermelho para paixão
  • comer romã e guardar as sementes
  • comer lentilha
  • comer somente carnes de animais que andam para frente
  • pular sete ondas (na praia)
  • queimar as coisas ruins numa fogueira
  • plantar uma árvore...
Prometi coisas a mim mesma (algumas não cumpri):
  • ser mais paciente
  • fazer dieta e emagrecer "trocentos" quilos
  • trabalhar menos
  • passar mais tempo com a família e os amigos
  • fazer uma limpa nos armários...
E pedi coisas:
  • amor
  • emprego
  • saúde
  • força
  • coragem
  • justiça...

Nem sempre fui atendida. Nem sempre consegui o que pedi.
Dessa vez decidi "fazer e acontecer" do meu jeito, sem esperar nada "do alto". Criei o meu ritual, pra não deixar a data passar em brancas nuvens:
  • acendi velas, queimei incenso e transformei a casa em um espaço ZEN
  • usei cinza com rosa e roxo
  • comi o que tive vontade
  • bebi o que quis
  • não prometi nada
  • agradeci tudo o que recebi
  • não pedi nada agora (terei o ano todo para isso)
E sabe que me senti super bem?
Como existem coisas que dependem de mim e outras que não dependem, posso agilizar as que só cabem a mim (quem sabe faz a hora não espera acontecer).
Minha decisão de ano novo é ousar e fazer coisas que nunca imaginei fazer. Permitir-me sair do padrão, do convencional, do modelão. Aceitar o que me é ofertado, abrir-me para novas possibilidades como, por exemplo, passar o ano novo em casa, sozinha, super zen, meditando e fazendo voto de silêncio (logo eu, que falo feito uma matraca!).
Quer saber? ADOREI!
Já estou até pensando em algo ainda mais diferente para o próximo ano.
Feliz 2011 para todos!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Mensagem de fim de ano

De repente me dei conta de que 2010 "já deu o que tinha de dar".
Mal me recuperei da Páscoa e já estamos no Natal!!!
O tempo agora voa em "velocidade de dobra" (quem já assistiu Jornada nas Estrelas vai entender).
Decidi aderir à tecnologia e fiz uma mensagem animada para 2011.
Ainda estou aprendendo, mas gostei do resultado!
Beijooooooooooooooooooooooos


quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A cura para o cansaço de gente

Filhotes de gente!!!
Verdade! Para esquecer os males que a humanidade provoca, basta estar com crianças, conversar, brincar, contar histórias, cantar, ouvir os planos e sonhos delas para o futuro e para a construção de um mundo melhor.
Filhote de gente é TUDO DE BOM!!!
Por que será que alguns filhotes, quando crescem, viram uns babacas?
Quando conseguirmos descobrir a razão e evitarmos essa metamorfose macabra, acredito que o mundo será um lugar muuuuuuuuuuuuuuito melhor.
Até lá, continuo fazendo como Gonzaguinha recomendava: "Fico com a pureza da resposta das crianças..."

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Cansaço de gente I, II, III, IV...

Há dias, ou melhor, semanas, em que o universo parece conspirar para testar o nosso limite.
Uma sucessão de fatos, totalmente alheios à minha vontade e controle, está conseguindo me fazer perder a fé na humanidade.
[Pior, estou questionando minhas crenças a ponto de pensar em me tornar cética, ateia. Quem não acredita em nada sofre menos, pois não alimenta esperança alguma.]
Uma amiga me disse uma vez, baseada em Drummond, que queria ser um carro de bois, para em vez de esperança, ter rodas...
Nem adianta perguntar o que houve. Eu me nego terminantemente a dizer. Isso significaria reviver coisas que não quero reviver.
Quero esquecer.
Quero esquecer os hotentotes surdos - neandertais que ameaçam a integridade das pessoas - e seus defensores.
Quero esquecer as pseudo-educadoras e gestoras de uma certa DRE de uma certa cidade que não têm a menor noção do que seja ética e bom senso.
Quero esquecer as coordenadoras dessa DRE que me convidaram para participar de um congresso, insistiram mas na hora H mudaram de ideia, me tratando com descaso e me deixando em prejuízo financeiro e moral.
Quero esquecer os bandidos que usam a inteligência para aplicar golpes nos outros.
Quero esquecer amigos da onça que usam as pessoas em benefício próprio e não as socorrem quando elas precisam, pois eles estão cheios de problemas.
Quero esquecer as companhias aéreas que descaradamente roubam o dinheiro dos incautos e se escondem atrás de contratos leoninos, se esquivando de devolver o dinheiro.
Quero esquecer os responsáveis pela compra de livros de uma certa instituição, que demoram meses para efetivar os negócios e deixam o coração de escritores e editores na mão, e que depois cobram propina para agilizar as coisas.
Quero esquecer os jurados de algumas premiações, que não conseguem avaliar criteriosamente os livros (seja por incompetência, seja por falta de tempo, seja por pressão) e acabam prejudicando quem realmente merecia ser premiado.
Quero esquecer transtornos e doenças que transformam entes queridos em seres desconhecidos.
Quero esquecer gente de ego aumentado e de inteligência minúscula, gente medíocre, gente arrogante.
Quero esquecer...
Tô cansada dessa gente que não parece ser gente.
Cansada de tomar na cabeça.
Cansada demais...
Cansada.

sábado, 20 de novembro de 2010

Cansaço de gente

Está faltando bom senso a muitos representantes da raça humana. Muito mesmo!
E também falta autocrítica, ética, respeito para com os demais humanos e não humanos...
Hoje meu tom é pura revolta. Meu copo transbordou!
Trabalho em casa. Moro num bairro residencial, tranquilo, sem trânsito, ideal para uma escritora se inspirar e criar. Há alguns meses, porém, as coisas mudaram. Uma construção bem em frente ao meu prédio acabou com o sossego.
É o preço do progresso. E que preço!
Não bastasse o barulho da obra, os trabalhadores chegam cedo, alguns em seus carros, com os rádios e aparelhos de CD tocando em último volume suas músicas preferidas. Conversam, riem, cantam. Não há período de silêncio para eles.
Suportei alguns meses, até que um dia, não aguentando mais, fui conversar com o grupo de trabalhadores. Expliquei que trabalho em casa e que preciso de silêncio. Eles têm direito de ouvir as músicas deles, mas eu tenho o direito de trabalhar em paz. Pedi gentilmente que ouvissem as músicas mais baixo.
Os rapazes se desculparam e disseram que não fariam mais.
Mal entrei no prédio, ligaram os rádios no último volume, dando o recado deles para mim.
Eu tinha esperança de que a conversa fosse suficiente. Agora percebi que com essa gente não há diálogo possível. Estou mobilizando os moradores do prédio e um advogado para dar um fim a esse pesadelo.
E tudo porque um grupo de hotentotes não sabe viver em sociedade.
Homens das cavernas teletransportados ao presente não deveriam ficar soltos por aí. Para minha tristeza, atesto a cada dia que o período Neolítico não acabou.
Humpf!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Carnivale SteamPunk - a primeira fotonovela brasileira SteamPunk



Creio que foram as horas mais divertidas que passei. Tive a honra de participar dessa montagem. O texto e a produção da fotonovela são do Carlos, vulgo Capitão Escarlate.
Estou ansiosa pela próxima!!!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Uma estranha condição

Há dias em que a gente acorda... digamos... diferente. Num primeiro momento, tudo parece igual, mas algo dentro de nós está mudado. Se definitiva ou provisoriamente, só saberemos depois.
Não encaramos a xícara de café com os mesmos olhos, e o sagrado pãozinho com manteiga parece amargo, sem graça. O que antes causava certo divertimento agora aborrece.
Mas... o que houve? Fígado atacado? Ressaca? TPM (no caso feminino)? Indigestão? Depressão? Estresse? Hormônios em ebulição?
De tempos em tempos sofro de um tipo de condição que denomino "abertura de olhos". Passo a ver o que antes não via, por ingenuidade, negação, despreparo. E por um tempo o mundo assume outras cores, outros sabores, nem sempre agradáveis.
Como a natureza é sábia, nos dá um tempo para adaptação e nos conduz... até que um dia, finalmente, nos faz ver e sentir as coisas que antes eram diferentes como normais.
(Ou será que ela fecha nossos olhos de novo?)
Já tive os olhos abertos à força e com suavidade. Já fiquei no escuro, andei sem rumo, estive vendada - porque não dava conta de ver. Quando vi, tive de mudar. Mudei. Remudei. Trimudei.
Estou de novo passando por essa abertura de olhos. Vendo o que construí e colhendo o que plantei tempos atrás. O que deixei para trás está claro. O que vem pela frente ainda está oculto. E, por mais que eu tente, não consigo ver. Há tempos não sinto tanto medo e, ao mesmo tempo, tanta vontade de botar o pé na estrada e ir pra onde manda a vontade, mesmo no escuro.
Dessa vez aprendi que se meus olhos não conseguem enxergar, terei de desenvolver outras formas de ver...

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Abismos II

Apesar do discurso pseudo-feminista de que finalmente temos uma mulher na presidência, sinto um gosto amargo na boca. Para mim, 56 milhões de brasileiros decidiram se atirar no abismo. O problema é que arrastaram com eles outros 44 milhões que não queriam ir...

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Conversa sobre parafusos e palavras

Escritores devem ter um parafuso a menos... Eu devo ter perdido pelo menos uns 12, só neste ano. Como dizia um amigo, sou "fora da casinha". Já comentei que recentemente descobri que sou/tenho DDA-H (Distúrbio do Déficit de Atenção com Hiperatividade). Isso realmente NÃO mudou minha vida na fase adulta. Só me deu mais um rótulo.  Talvez se tivesse sido diagnosticada e medicada desde a tenra infância, eu hoje estivesse atrás de uma escrivaninha fazendo planilhas (meu maior pesadelo) ou trabalhando em um órgão público... pronta pra morrer de fato. Agradeço ter nascido antes da descoberta desse distúrbio e dessa medicação.
Depois de amargar na escola uma certa discriminação - da parte dos professores - porque vivia com a "cabeça no mundo da lua", fui chamada de desligada, amalucada. Isso, para uma escritora, é simplesmente PERFEITO!!! Já contei em um post anterior que o neurologista me receitou ritalina. Tomei e virei um ser que desconheço. As coisas tomaram uma proporção tão... medíocre! Parei de me encantar com o que antes me deleitava e inspirava contos e histórias, como dois urubus gigantescos na sacada de um apartamento bem na frente da minha janela  (saiu um conto digno de Egard Allan Poe). Fiquei com um indigesto bloqueio criativo (a mente parecia vazia, estava contida, reflexiva... Credo!)  A luz do alerta vermelho soou. Por sorte, eu não estava perdida de todo. Ainda guardava alguma essência de mim. Joguei a medicação no vaso sanitário (que por sinal nunca mais foi o mesmo) e troquei a ritalina pela Rita Lee. Voltei a atropelar pensamentos, a ter insônia, a falar rápido, agitando os braços e - principalmente - voltei a escrever.
A mente continua acelerada. Durmo mal e pouco. Mas as palavras que saem têm me presenteado com retornos incríveis. Mensagens, posts, e-mails, cartas de leitores, depoimentos... enfim, o sonho de uma escritora cujo pesadelo era não ser lida por ninguém.
Uma amiga da Espanha me mandou uma pergunta, a respeito do texto sobre as perdas: "Onde está a câmera oculta?", comentou que está passando por um momento de perda e que minhas palavras pareciam ser dela, caíram nela como uma luva.
As narrativas fazem isso: abrem portas; nos levam para um mundo onde todos se igualam e são passíveis de viver e sentir coisas semelhantes, nos ajudam a perceber que não estamos sós, que não sofremos sós, ajudam a compreender a nós mesmos, a compreender os outros e o mundo que nos cerca. É, hermanita... não é à toa que muitas tribos acreditam que a palavra cura...
(Alguns infelizmente usam a palavra como arma de morte, mas eu prefiro fazer dela a minha "poção de vida"...)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O que se aprende com as perdas

Não somos preparados(as) para perder nada nem ninguém. Encaramos a perda como algo negativo, doloroso, derrotante, humilhante... Seja lá que perda for.
Quando se perde um ente querido, o luto impera.
Quando se perde um amor, o luto impera.
Quando se perde um emprego, o luto impera.
Quando se perde um prêmio, uma copa, uma olimpíada, o luto impera...
O luto, de fato, é uma dor que quem já sentiu sabe o quanto dói, e sabe também que com o tempo vai se amenizando.
Perder é ficar para trás. É se dar conta de que o mundo e as pessoas seguem sem nós. [Como se atrevem a seguir e nos deixar aqui, tendo de lidar com a nossa insignificância?]
Comecei a fazer uma lista do que já perdi nessa vida:
tempo
a hora,
o contato,
o ônibus,
o trem,
o avião,
o HD do computador (2 vezes),
+ os back ups dos arquivos (todos),
fotos,
livros,
a bolsa,
a carteira,
documentos,
dinheiro,
cartões de crédito,
talões de cheque,
o prazo,
um prêmio importante,
o jogo (ou melhor, vários),
o sono,
a roupa (porque engordei, emagreci ou cresci),
peso,
o fio da meada,
o rumo,
a cabeça,
a razão,
o juízo,
a vergonha,
as estribeiras (ou a paciência),
alguns empregos,
um amigo por besteira,
parentes e amigos por falecimento,
pessoas de vista,
a esperança,
a confiança nas pessoas,
um amor...
Perdas incomodam pelo transtorno que provocam, pelos sentimentos que fazem aflorar, pela esperança que roubam, pela tristeza e dor que causam.
Quando a perda é material e não se pode recuperar o bem perdido, vem acompanhada de uma certa indignação, raiva, revolta.
Quando a perda é emocional, vem acompanhada de uma dor que pode assumir proporções gigantescas.
Quando ela é moral, pode se fazer acompanhar de sentimentos dúbios, confusos, desnorteadores, obscuros, opressores...
Aprendi com as perdas a continuar. [E o mais incrível é que me descobri capaz de prosseguir, apesar delas.]
Aprendi que perdas também trazem ganhos. Fortalecem. Alertam. Ensinam. Vacinam. Preparam. Questionam.
Às vezes, na frente do espelho, cheia de dúvidas sobre um caminho a seguir, com medo de novas perdas, lanço-me perguntas. Ao buscar as respostas, percebo que carrego em mim algo que não pode ser perdido. Não é uma bússola, nem um GPS, é mais uma consciência. Consciência de quem sou e do que quero ser.  E assim descobri que enquanto eu for eu mesma, apesar de qualquer perda que me aconteça, poderei sempre recomeçar, reconstruir, ressignificar...

Beijão da Célia Cris

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Crianças disfarçadas de adultos

12 de outubro. Dia de comemorações socioculturais e religiosas. Alguns rezam, agradecem, pedem. Alguns  se reúnem para celebrar de diferentes maneiras. Alguns simplesmente decidem dar a si mesmos momentos de alegria pura (e isso não deixa de ser uma celebração, uma forma de se conectar com o Cosmo). Alegria saudável, com amigos.
A sociedade nos cobra amadurecimento, crescimento, produtividade. Muitas vezes, isso traz um endurecimento, a perda da conexão com a alma da gente. Já a vida nos cobra contato constante com nossa essência, valores, sentimentos, com a criança dentro da gente.
Para muitos, cultivar a alma, os sentimentos, é sinal de fraqueza, pois nos torna menos competitivos...
Aprendi a duras penas que há pessoas essencialmente competitivas e pessoas essencialmente colaborativas. Quando um tipo se esforça bastante para se tornar o outro tipo, consegue, mas paga um preço por isso. Sou a prova viva disso. Colaborativa por natureza, quase enfartei ao me esforçar para ser diferente. Foi o período mais infeliz de minha vida. Cargo de destaque, viagens, salário alto para resolver problemas que outros haviam criado, para administrar egos inflados, para aturar gente de mal com a vida, gananciosa e mal educada. Resultado: problemas de saúde, diabetes, obesidade, insônia, nenhuma vida pessoal... só trabalho.
Bem, isso é assunto pra outro post. Quis citar isso pra explicar que ao deixar essa vida para trás e abraçar a Célia da essência, tive perdas e ganhos. As perdas foram financeiras, mas os ganhos... Caramba! Ganhei vida, novas ideias, novas possibilidades, inspiração, paz interior, meu sono de volta, novos amigos e a reconexão com minha criança interna. Uma menina muito querida chamada Célia, loira e cheia de cachinhos, meiga e serena (apesar de hiperativa), que me traz luz e alegria.
E a partir daí comecei a encontrar ( e reencontrar) pessoas com sintonia semelhante.
Conheci o pessoal do Conselho Steam Punk por intermédio da Bety Damballah. Uma galera do bem, gente de cabeça feita que elegeu como hobby uma forma inteligente e gostosa de se reunir e passar o tempo.
No dia das crianças o grupo foi fazer fotos num velho circo abandonado. O local abriga uma estação de Ciências. O pessoal do grupo irá dar uma aula para crianças da rede pública sobre revolução industrial, épocas e costumes diferentes - trajados a caráter! Haverá contação de histórias... Uma forma deliciosa de aprender, não é mesmo? Pois bem, aderi ao Movimento e fui aceita sem o menor problema. Fato intrigante, pois é muito comum haver certa resistência a novos elementos em um grupo, geralmente ocasionada por disputas de poder. Não percebi isso no pessoal do Steam Punk. Pelo contrário, fui bem-recebida e agregada ao grupo rapidamente. Foi um dos dias mais divertidos que já tive. Cada um incorporado em seu personagem, com trajes pesquisados e criados nas oficinas do Conselho, compartilhando momentos de lazer e prazer em grupo.
As piratas queriam matar Madame Bety, dona do cabaré, mas a valente dançarina tentou defendê-la.

De volta ao Velho Oeste...

Madame Bety prendeu as novatas e vai vendê-las no mercado paralelo. Eu disse que elas ainda estão muito magrinhas e não atingirão um bom preço...

Foto para a capa do catálogo:  Meninas do cabaré

Essa vedete ainda dá um bom caldo, não?

terça-feira, 12 de outubro de 2010

ABISMOS...

Muitos relacionamentos modernos parecem estar fadados ao fracasso. Corações partidos se multiplicam ao nosso redor. Homens e mulheres se queixam de solidão, da falta de sinceridade e honestidade dos(as)  parceiros(as), acusam-se, mentem, acumulam mágoas...
"Quem não se arrisca a amar não se machuca, mas tambem não vive". "Viver é arriscar-se". Essas frases ecoam em filmes, livros, conversas e conselhos.
Ando me dedicando ao estudo da mudança de comportamento nos afetos. Quanto mais me envolvo, mais confusa fico. Até os psicanalistas andam de cabelo em pé.
O risco de se magoar ao entrar numa relação existe. Mas há também uma esperança de que dê certo.
Porém, quando o risco de quebrar a cara é fato conhecido, previsível e propositadamente desejado, fica a pergunta: Por que se arriscar se já se sabe onde isso vai dar?
Por que algumas pessoas insistem em se lançar em aventuras que sabem de antemão que irão ferir, magoar e causar danos? [Há seres que parecem ser atraídos pelo perigo, pelo risco mortal, pelo insustentável.] Freud certamente deve ter uma explicação para isso.
Como não sou psicanalista, mas sim escritora, lanço mão de uma frase do Galeano e me inspiro nela para um miniconto, com o qual presenteio os corações que já se partiram e/ou foram partidos...


ABISMOS
                                                Célia Cris Silva


“Eu adormeço ao lado de uma mulher. Eu adormeço ao lado de um abismo”.
(Eduardo Galeano)

Ele teve dois divórcios difíceis.
Três namoros complicados.
Cinco casos passageiros.
Disfarçava a baixa auto-estima com uma alegria fabricada, uma simpatia estudada e uma verborragia animada.
Envolveu-se com uma mulher mais velha, mais sábia, mais resolvida. Tudo nela parecia perfeito.
No entanto, o medo de ser feliz o envolveu.
As dúvidas voltaram a assombrar seu sono.
Não sabia lidar com a felicidade.
Decidiu reatar o namoro com uma das ex-namoradas. A mais nova, a menos sábia, a menos resolvida. Tudo nela parecia imperfeito, porém, conhecido.

Decidiu se atirar no abismo.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Piquenique vitoriano

Entre uma pastora, Maria Antonieta e sua dama de companhia.
Diferentes tempos e estilos se encontram.
Domingo, dia de frio e sol (Curitiba tem dessas coisas). Em vez de ficar mofando em casa, fui a um Piquenique vitoriano no parque Barreirinha. Assim como os cosplayers, essa tribo gosta de se vestir como personagens reais ou fictícios - só que do século XVIII ou XIX (o limite é até 1920, com variações sobre o tema). Lá também encontrei os Steampunks, os Posers, os Góticos... Gente descolada, artistas, de vanguarda, enfim, pessoas que levam a sério recriar um estilo de época, que curtem livros (no convite, inclusive, havia a solicitação de doação de um romance de época, que seria encaminhado para um hospital, onde voluntários leem para os pacientes). 
Improvisei um traje "eduardiano".
Não fiquei super estilosa?

Foi bárbaro: um lago maravilhoso, um céu bem azul, o verde das plantas, toalhas xadrezes no gramado, pratos de sanduíches, frutas, cestas de vime, taças super estilosas, jarras de estanho e os trajes... Ah! os trajes... simplesmente LINDOS!
Na entrada do parque, encontrei uma rapaziada tomando cerveja e azarando as meninas. Um dos rapazes comentou: "Mais uma maluca". Para ele, quem se veste como no passado e discute literatura pode parecer mesmo maluco. Para mim, maluco é quem passa o domingo bebendo, assistindo TV e jogando fora a saúde e a vida em atividades vazias, massificantes e emburrecedoras. Mas cada um tem o direito de fazer o que quiser com a própria vida. Só não acho que ninguém tem o direito de se posicionar como modelo a ser seguido, "o" correto e desqualificar quem pensa e age de forma diferente.
Bem, o que importa é que foi um domingo delicioso, diferente, conversando com gente inteligente, com outra visão de mundo. O mundo, definitivamente, precisa de mais "malucos" como esses!
Com Bety Damballah, que me apresentou a dança tribal, os Steampunks e os Vitorianos.
Uma mulher de visão e uma amiga mais que querida.

Maria Antonieta não foi decapitada! (E levou 2 horas para ajeitar o cabelo!)



quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A mulher-poesia

Em 1986 eu trabalhava como revisora em uma editora de SP. Revisei uma série de livros de novos autores e poetas. Um livro me chamou a atenção: Um avô e seu neto, de Roseana Murray. Apesar de ser em prosa, era pura poesia. Ela publicou outros livros, predominantemente de poesia. Um mais gostoso que o outro. De lá para cá, venho acompanhando a carreira de Roseana Murray, uma poeta-escritora como poucas. Hoje, finalmente, tive o prazer de ouvi-la falar. Momentos de encantamento, emoção, declamação, leitura e bate-papo. Roseana é envolvente, inteligente, interagiu com a plateia e arrancou gostosas risadas de nós. Depois da palestra-encantamento fui conversar com ela, emocionada:
"Roseana, eu revisei um de seus primeiros livros, há mais de 20 anos: Um avô e seu neto e me apaixonei pela história. Queria te dizer que ao longo de sua carreira eu construí uma imagem sua, pautada nas coisas que você escreve, e tenho de dizer que você é imensamente melhor e maior do que eu imaginava. Você é uma grande escritora porque é uma incrível leitora de mundo e um ser humano MARAVILHOSO."
Ela se emocionou e me abraçou, sorrindo. Conversamos, rimos muito, tirei uma foto com ela e saí do auditório feliz, encantada, com a alegria de uma criança que acaba de ganhar algo que queria muito. Creio que hoje encontrei uma "lantejoula verde" em forma de gente. (Para entender essa referência, veja o post anterior.)
Roseana Murray e esta tiete (amor antiiiiiiiiiiiiiiiiiiigo)

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A lantejoula verde

Ainda falando sobre Marina Colasanti...
No meio da palestra, ela exclamou: "Olha só que coisa linda!" Se abaixou, pegou algo no chão do palco e compartilhou com a plateia. Era uma lantejoula verde.
"Ela brilhava com uma luz incrível. Aqui no palco, não vi um chão cinza, mas uma luz que me desviou a atenção. Um escritor é isso: ele pega uma lantejoula, deixa de lado a realidade e sai, ele e a lantejoula, por uma porta lateral, criando textos..."
Em outro momento, disse que, para escrever seus ensaios, fazia muita pesquisa, mas que, para escrever literatura, não faz pesquisa. Tudo o que viveu, viu e sentiu ao longo da vida foram suficientes. "Tenho 73 anos de pesquisas nas costas, oras!", finalizou num sorriso verde-lantejoula.
[Eu só tenho 44, Marina. Ainda há muito o que viver e pesquisar...]

A mestra das palavras

Recebi um e-mail de uma ex-aluna (de um curso de pós-graduação em formação editorial que dei na PUC, em 2009) dizendo o seguinte: "Estou realizando um sonho... Marina Colasanti está em Curitiba para o III Encontro da Rede de Bibliotecas de Curitba, e quem a está atendendo sou eu! Imagina se não tenho o livro Contos de amor rasgados que tem (o conto) "Embora sem náusea", que eu adorava quando vc contava... Olha só quanta coisa boa vc deixou para mim, em tão pouco tempo de convívio!(...)"
E finalizava o e-mail me convidando para ir assistir a palestra de Marina Colasanti.
Essa aluna não faz ideia do quanto me emocionou. Voltei no tempo.  Eu costumava iniciar as aulas com um microconto ou uma história curta, pois acredito que as narrativas abrem portas... Já falei isso antes e sou uma grande defensora da arte de contar histórias sempre que houver oportunidade. Pois bem, além de conquistar uma nova fã para Marina Colasanti, arrebanhei uma fã da contação de histórias. Essa aluna foi tocada de uma forma única. Disse que deixei algo bom para ela. E agora ela me retorna esse algo de bom centuplicado. Fiquei atônita. 
Fui à palestra da grande artesã das palavras (Marina) que contou seu processo de criação. Meus olhos insistiam em vazar, pois me identifiquei tremendamente com ela. Como foi bom! Eu já adorava a Marina. Agora sinto por ela uma admiração de mulher-escritora-companheira de lutas. Aos 73 anos, ela é uma das mulheres mais doces, meigas e ao mesmo tempo fortes e poderosas que conheço. Seu poder reside na PALAVRA (e como ela sabe usar bem a palavra, meu Deus!). Depois da palestra, fui dar uma abraço nela, tirei fotos como uma tiete bem tiete e contei que costumo contar os contos dela em palestras e aulas e que há alguns contos, em particular, que tocam a alma feminina tão profundamente que até hoje recebo mensagens de pessoas que se sentiram tocadas e transformadas por algum conto dela (e apontei para a minha ex-aluna, outra criatura muito especial).
Depois pedi a ela que autografasse o livro Minha guerra alheia (editora Record). Ao ler a dedicatória que Marina me escreveu, os olhos vazaram novamente. Eis o que está no meu livro: "Para Célia, "minha" voz em tantas ocasiões, com gratidão e carinho."
Continuarei sendo sua voz, Marina, pois suas palavras, quando entram em mim, se tornam minhas, e seus contos, em mim, se misturam ao que sinto, e quando saem, me levam junto. E assim, vou semeando Célias e Marinas por esse mundo afora...
Obrigada, mestra!

Marina Colasanti e a tietagem explícita desta aprendiz de escritora...

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Pensamentos...

Caramba, como o tempo passa rápido!
Pisquei os olhos e já estamos no final de setembro.
Olho para trás, depois para frente, vejo interrogações, exclamações, reticências... Esses três pontinhos abundam em minha produção escrita e em minha vida.
Estou preocupada com o rumo das coisas. As eleições estão chegando e me assusto só de pensar no que vamos encarar... [Mais reticências]. De que adianta ter uma "visão de Thundercat", visão além do alcance, se a maioria esmagadora das pessoas parece estar cega? De que adianta ver que alguns milhares de eleitores estão indo em direção a um abismo se eles acham que estão corretos e acreditam que a escolha deles é a melhor? De que adianta ter livre arbítrio se não sabemos usá-lo?
Será que sou eu a errada? Questiono minha sanidade e minhas escolhas. Questiono meu enfado com o ramo político e também meu passado de brigas e ideais exaltados. Questiono tudo em mim. TUDO. Decisões, posturas, desafetos amealhados, orgulho besta, orgulho ferido. Simplesmente orgulho.
Junto a isso uma fase de total bloqueio criativo, que me exaspera e irrita. Droga!
Ultimamente, sou a personificação da música "Quase sem querer" do Legião Urbana (adaptada para uma versão feminina):

Tenho andado distraída
Impaciente e indecisa
E ainda estou confusa
Só que agora é diferente
(...)


Quantas chances desperdicei
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava
Provar nada pra ninguém (...)

Mas não sou mais
Tão criança, oh! oh!
A ponto de saber tudo...
Já não me preocupo
Se eu não sei por que
Às vezes o que eu vejo
Quase ninguém vê

E eu sei que você sabe
Quase sem querer
Que eu vejo
O mesmo que você...

[Talvez sejam os hormônios definhando ou a intuição que me alerta. O fato é que sinto que algo impactante está para acontecer. Só não sei se o acontecimento será direcionado em mim ou se serei afetada por algo maior, em nível coletivo. Na dúvida, é melhor começar a rezar...]

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Miscelânea sobre leitura

Tanto tempo longe do blog... Tantas coisas acontecendo... Tantos pensamentos...
O tempo não pára para que nos adaptemos. Não pára para que o acompanhemos. Simplesmente não pára. [Sei que não se deve acentuar mais o verbo parar na terceira pessoa do singular, mas me nego a tirar o acento. É difícil aceitar essa nova ortografia ridícula pautada em interesses comerciais, que se colocam acima da filologia, da etimologia e, acima de tudo, do bom senso - sem hífen.]
Voltando...
Fui à Bienal Internacional do Livro, em agosto. Durante anos frequentei (sem trema) essa feira como editora. Ia pesquisar, avaliar a concorrência, pegar catálogos, morria de inveja dos livros maravilhosos que os outros publicavam e pensava: "Por que não fui eu que editei?"
Pois este ano fui como escritora. Pesquisei, avaliei, peguei catálogos... ponderando em que editoras eu poderia publicar meus livros. Vi obras incríveis, lindas, bem cuidadas, e outras tragicamente malfeitas, toscas, coisa de amadores. Fui entrevistada. Declarei que o Brasil ainda não é um país de leitores, mas pode se tornar, se houver políticas públicas e políticos que levem a formação de leitores e professores a sério. Minha entrevista foi colocada no Youtube junto com a propaganda eleitoral de um político que possui uma editora. No lugar de brigar com o gajo, exigirei que ele faça algo para formar leitores e não apenas eleitores, caso seja eleito. Ele não faz ideia (sem acento) do quanto posso ser chata!
Acima de tudo, observei o público. O que as pessoas leem? O que buscam? O que esperam encontrar nos livros? E o mais importante: Como leem? Atribuem realmente sentido ao que veem? [Ler é atribuir sentido ao que se vê, seja um texto, uma imagem, um gesto...]
Estou muito cansada da mediocridade que impera neste mundo (não apenas no Brasil) e que impede o desenvolvimento do pensamento, da criatividade, da inteligência.
Mas tenho esperança.
Cada vez que vejo uma criança prestando atenção a uma história, pegando um livro, uma HQ, me animo.
Ali está uma semente a germinar.
Daniel Pennac, em seu livro "Como um romance" fala de como os adultos conseguem matar o leitor que há em cada criança.
Conversando com minha prima, Mônica, leitora voraz desde a infância, discutimos sobre o porquê de as pessoas não conseguirem mais ler criticamente, atribuindo sentido, interpretando, tornando-se simplesmente  analfabetas funcionais. O que está acontecendo?
É tão fácil cultivar um leitor: encante-o, divirta-o, incentive-o, faça-o se apaixonar pelo mundo das narrativas, ajudando-o a projetar naquele mundo tudo o que ele vive neste aqui, com a vantagem de que naquele mundo ele pode mandar e alterar as coisas. Essa é a magia das narrativas. Simples, não?
Então, por que não há mais leitores?
Encerro este post com um texto do mestre Eduardo Galeano, que fala por mim o que a leitura é capaz de fazer com um ser humano. Boa viagem...

A leitora
    
     “Quando Lúcia Pelaez era pequena, leu um romance escondida. Leu aos pedaços, noite após noite, debaixo do travesseiro. Lúcia havia roubado o romance da biblioteca de cedro onde seu tio guardava os livros preferidos.
     Muito caminhou Lúcia, enquanto passavam-se os anos. Na busca de fantasmas, caminhou pelos rochedos sobre o rio Antióquia e na busca de gente caminhou pelas ruas das cidades violentas.
     Muito caminhou Lúcia, e ao longo do seu caminhar ia sempre acompanhada pelos ecos daquelas vozes distantes que ela tinha escutado, com seus olhos, na infância.
     Lúcia não tornou a ler aquele livro. Ela não o reconheceria mais. O livro cresceu tanto dentro dela que agora é outro. Agora é dela.”

GALEANO, Eduardo. Mulheres. Porto Alegre: L&PM. 2004.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Voltarei em breve...

Fase de trabalho intenso e árduo (apesar de muitos acharem que escrever não é trabalho)...
Tenho muito sobre o que escrever, mas pouco tempo para me dedicar a isso.
No momento, devo cumprir prazos muito apertados.
Para garantir o sustento, assumi escrever materiais didáticos que drenam minha criatividade e me tiram o sono...
Coloquei na minha frente uma oração palestina: "Não peço um fardo leve. Peço costas poderosas."
Mesmo assim, rebelde nata, insiro no material didático poesia, reflexões e literatura... e rezo para que não sejam cortados na edição.
Estou do outro lado da profissão, agora. Ah! Irônico destino!

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Fotos pra nunca mais esquecer (2)

E mais fotos do dia em que me encheram de graça e alegria...

As crianças fizeram um jogral muito lindo com a história "Orelha, nariz, barriga e bumbum: quer mudar algum?"
Com professores e representantes da Secretaria de Educação de Guaianazes.
Professor Onézio fez uma caricatura minha.
Professora Lúcia Munis, coordenadora da Sala de Leitura, amiga queridíssima e responsável por minha ida à escola
Respondendo às perguntas dos leitores-personagens...

Fotos pra nunca mais esquecer

Oi, pessoal. Conforme prometido, mais fotos do mais espetacular encontro entre uma escritora e seus leitores... Momentos de pura emoção, encantamento e magia. Sou muito grata por ter sido merecedora dessa experiência única.

A chegada. Samuel e Leticia, representantes do Clube de Leitura, me recepcionaram.
Um mar de fogueirinhas...
Com os leitores-personagens que fizeram perguntas. Da esquerda para a direita: A mulher que subiu ao céu, um dos gêmeos (Ana e Ana), eu, Rosalina (Doces beijos), Toninho (Os olhos de Toninho), o outro gêmeo.
Assistindo a um vídeo feito em minha homenagem. Pura emoção.
Autografando... (para eles, eu sou uma superstar!)
Para mim, eles é que são as estrelas!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Reflexões sobre a arte de escrever

Ainda impactada pela intensa e calorosa recepção que tive na EMEF Elias Shammass, continuo pensando no que significa escrever literatura e nos motivos que me levaram a deixar para trás uma carreira de mais de 20 anos como editora para realizar o sonho de ser escritora profissional  (e arcar com as consequências dessa decisão).
"Você tem mais sorte do que juízo", disse uma amiga, certa vez. Ela tem razão.
Quando concluí meu primeiro original, há mais de 30 anos, (pelo menos o que eu considerava um texto digno de ser impresso), nunca poderia imaginar o impacto dele na vida de alguém a não ser na minha vidinha adolescente. Deixei o livro na gaveta, aguardando uma mente aberta que o publicasse. Enquanto aguardava, caminhei pela vida e pelo mundo, assimilando gentes e histórias. Enquanto fui editora, lancei livros dos outros, abri portas para os outros, projetei escritores e ilustradores. Sempre usei de franqueza, apesar de algumas pessoas preferirem não ter de encarar a verdade. Ganhei amigos preciosos e inimigos figadais. (Recebi até ameaças.) Tive de engolir sapos, consertar problemas que outros criavam, lidar com egos complicados, com gente complicada, com gente bacana, com gente fora dos padrões (como eu), com gente sonhadora (que nem eu!), gente de personalidade forte (de novo, como eu!), briguei pelo que achava justo e certo (mas nem sempre acertei).
Fui demitida, mais de uma vez. Tive meu nome apagado das páginas de crédito dos livros e das coleções que idealizei e editei, de vídeos, de impressos, da vida das empresas. Com o tempo, nada restou de minha passagem. A invisibilidade do trabalho editorial sempre incomodou, pois não é justa. No entanto, percebi que essa invisibilidade não é comum apenas no meio editorial. Ela também existe em outras áreas.
Assistindo a um vídeo produzido por uma das editoras nas quais trabalhei, vi que antigos diretores foram cortados (entre eles, eu!), secretários e secretárias de educação foram substituídos e, na impossibilidade de se retirar a pessoa, a legenda denunciava: EX-SECRETÁRIA... EX-SECRETÁRIO... (O meio político e o educacional estão cheios de seres invisíveis, mas isso é assunto pra outra postagem...)
Sorri aliviada ao ver e ouvir o escritor dos livros, com sua fala de sábio grego, explicando o valor da literatura para as pessoas.
Foi bom vê-lo e revê-lo, constatando que não existe ex-escritor, ex-autor. Por mais que o escritor se rebele contra a editora, o editor ou os "poderosos" que decidem quem fica e quem vai, por mais que cancele um contrato, sua obra é sua, saiu de suas entranhas e é protegida por lei. Ninguém pode desvincular seu nome e sua pessoa daquela obra.
Voltei no tempo, quando finalmente consegui publicar Ana e Ana, quando ele foi transformado em animação pelo Canal Futura, quando foi selecionado para um programa de leitura no México (que não vingou até hoje não sei por quê), quando foi recomendado pelo Unicef e pela Unesco como referência positiva para a construção de uma identidade afrobrasileira. [E pensar que muitos editores não quiseram publicar esse livro!]
Constatei que, apesar de não ter filhos, meus livros são os "filhos" que deixarei no mundo. Sempre carregarão meu nome na capa e minha ideias e pensamentos em suas páginas (a alma do livro).
Curiosamente, me dei conta de que há um lado bom na invisibilidade e aprendi uma lição sobre ela: as sementes que plantei e as ideias que lancei continuam movendo pessoas, mesmo que elas não tenham a menor noção de quem eu sou ou o que fiz, pois quando uma ideia é boa, ela entra nas pessoas, germina, cresce e transborda e assim vai contagiando mais e mais gente.
Muitas de minhas melhores ideias estão em livros que não trazem meu nome na capa. Mas carregam meu pensamento na concepção, nas entrelinhas, na estrutura...
E como os livros têm a capacidade de mudar as pessoas, como dizia Quintana, continuo, de um jeito muito sutil, invisível e ameno, a colaborar de alguma forma.
Porém é infinitamente melhor contribuir para essa mudança mostrando a própria cara, sorrindo, tendo contato com as pessoas -- como aconteceu com a "galera do Elias" --, para que os leitores tenham a certeza de que um(a) escritor(a) não é um ser mágico, ou alguém que já morreu , muito menos um semideus. Um(a) escritor(a) é letra viva, palavra viva, sentimento vivo, cuja motivação é ser lido(a) para poder continuar existindo e espalhando palavras que curam, transformam e fazem pensar.
Pablo Neruda, um de meus poetas preferidos, resume isso brilhantemente numa frase: Meu dever é viver, morrer, viver...
Obrigada a todos os meus leitores e leitoras por me manterem VIVA!
Um beijo no coração.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Um dia pra nunca mais esquecer

O pessoal do Clube de Leitura preparou um
painel com as capas dos meus livros

Por mais que eu envelheça e esqueça das coisas, creio que jamais esquecerei o dia 27 de julho de 2010. Impossível esquecer algo que te aproxima do céu!
Fui visitar a EMEF Elias Shammass, na Cidade Tiradentes (SP) -- cujos alunos leram meus livros (todos eles) -- e conversar com as crianças, os professores e a turma do Clube de Leitura.
A recepção que tive foi digna de estrela de TV!!! Mal saí do carro, ouvi uma voz da janela gritando para dentro da escola: "Ela é bonita!"
Agora entendo o que as celebridades sentem. Mas tenho uma vantagem sobre várias celebridades: meu público! CRIANÇA é tudo de bom e quando ama algo e alguém é amor em estado puro. Fui abraçada, beijada e olhada como se fosse um presente todo especial.
Mal sabiam elas que o grande presente quem recebeu fui eu. Um escritor só existe porque existe quem o leia.
Contando uma história...
Disse a elas: "Vocês são a razão de eu ser escritora. Se vocês não lessem meus livros, eu não estaria aqui." Um menino me disse que pensou que eu não existia de verdade. Lembrei de meu amigo, escritor de primeiríssima linha, José Ricardo Moreira, que foi cutucado por um aluno numa escola e ouviu dele: "Você tá vivo!"
É muito divertido ver como os escritores têm uma aura de isolamento e inatingibilidade. Isso me incomoda. Fiz questão de fazer as crianças me tocarem e disse: "Eu existo, sim, em carne e osso. Mais carne do que osso, por sinal!"
Respondi muitas e muitas perguntas, vi olhinhos brilhantes, curiosos, recebi sorrisos, homenagens, desenhos, cartinhas, bilhetes, carinho, amor, amor, amor, amor... Não consegui me segurar e chorei meeeesmo, de pura emoção.
Os alunos do Clube de Leitura me entrevistaram. Fui filmada. Escrevi mais de 300 autógrafos.
Com a galera do Clube de Leitura e professores
Contei histórias, dancei, enfim... fui por um dia a escritora mais popular e feliz que já existiu. Era como estar na entrega de um prêmio. Lucinha, coordenadora do Clube de Leitura, e Samuel, membro distinto do Clube de Leitura, aprontaram para mim. Ele ajudou a organizar tudo e ciuidou da parte tecnológica, além de fazer um número musical bárbaro. Também pesquisou meu blog em busca de informações e fotos e com elas montou uma apresentação mostrando um pouco da minha vida, minhas viagens, meus sonhos e da minha família (mostrando que sou gente como qualquer outra pessoa) me deixando sem fôlego. Lucinha foi às escondidas em casa e filmou depoimentos dos meus pais. Quando vi os velhinhos, na apresentação, falando da filhota escritora, quase tive um treco.
"Meu Deus", pensava, "eu não sou famosa, nem especial, nem uma escritora de projeção para merecer tantas honrarias". Mas, para eles, eu fui a primeira escritora que pisou naquela escola. Então, para eles, eu era, sim, muito especial.
Impossível contar todas as emoções sentidas e vividas. Teria de escrever muitas postagens para dar uma pálida noção da grandiosidade daquelas pessoas (alunos, professores, coordenadores, diretores, assistentes...) e o trabalho que eles desenvolvem ali, apesar de muitas dificuldades.
Uma das homenagens recebidas
Saí de lá transformada, mexida e assustada com a responsabilidade de escrever e ser lida, de ir a uma escola, contar histórias, mostrar quem sou, falar o que penso, abrir o coração, dar minha opinião sobre assuntos diferentes...
Voltarei a escrever sobre a EMEF Elias Shammass e seus "encantadores de escritores" mais vezes, futuramente. Por ora, só posso dizer que nunca imaginei receber tanto, e com tanta qualidade, num mesmo dia. Por sorte, não sou cardíaca, caso contrário, meus leitores teriam de se contentar com autógrafos psicografados.


quinta-feira, 22 de julho de 2010

Golpistas me dão nos nervos! - Parte 2

Pois é... Há algumas semanas alertei sobre o golpe do cartório e hoje alerto para outro tipo de golpe: O do acidente de trânsito.
Dessa vez a vítima foi meu pai. (Uma santa criatura que acredita nas pessoas.) Ele recebeu uma chamada a cobrar e atendeu. Do outro lado do telefone, um rapaz disse: "Tio?". A voz era muito parecida com a de um sobrinho. "Fulano?" perguntou papai (Aí o golpe estava garantido!). O rapaz falou que havia batido o carro e que o dono do outro veículo era um advogado. Como o sobrinho não tinha seguro, o advogado o levou até uma oficina e fez um orçamento. Disse que não o deixaria sair de lá até que ele levantasse o dinheiro para pagar o funileiro. O sobrinho, então, pediu: "Tio, o senhor me empresta parte do dinheiro? Preciso que o senhor deposite na conta do funileiro". Deu nome e uma conta de poupança. Meu pai, solícito e preocupado, nem questionou. Foi ao banco, sacou dinheiro e foi à Caixa Econômica fazer o depósito. Mais tarde, o sobrinho ligou novamente e falou com minha mãe. Ela, toda aflita, perguntou: "Você se machucou?" "Só um pouquinho, tia, levei dois pontos na boca e machuquei o joelho." "Passa aqui em casa pra eu ver como você está". E começou a chorar, penalizada pela situação do afilhado querido. O rapaz, percebendo que ela estava fragilizada, desferiu novo golpe: "Tia, preciso pagar o restante do dinheiro pro funileiro. A senhora pode me emprestar?" "Passa aqui em casa, meu filho". "Não posso sair daqui, tia, a senhora tem de ir ao banco fazer o depóstito." Aí uma luz acendeu na mente ainda lúcida de minha mãe. O afilhado sabe que ela tem problemas de locomoção e jamais pediria que ela fosse ao banco. A empregada alertou: "Isso tá com cheiro de golpe". Desconfiada, ela finalizou: "Ah, meu filho, liga mais tarde e fala com o seu tio. Eu não estou me sentindo bem. Tchau!"
Quando meu pai e minha mãe foram averiguar a veracidade dos fatos, já era tarde. O dinheiro já havia sido depositado. O verdadeiro sobrinho não estava nem em São Paulo e não houve acidente algum. O policial que fez o BO disse que as quadrilhas têm variado bastante os golpes e que é demorado encontrar os meliantes, mas que eles acabam sendo capturados. [Já o dinheiro e a confiança na raça humana... vai ser difícil recuperar...]

sábado, 17 de julho de 2010

Novas aventuras de Namor, o príncipe submarino

Meu mano Big Paul, ou "Namor", o herói das profundezas, foi mergulhar nada mais nada menos que nas ilhas Galápagos. Se você está olhando para cima, apertando os olhos e se perguntando "Onde é que eu já ouvi esse nome antes?", provavelmente foi numa aula de Biologia, quando o professor ou professora ensinava sobre um certo senhor chamado Charles Darwin, que estudou os animais dessas ilhas (e de outros lugares) e escreveu sua teoria sobre a evolução das espécies. Lembrou agora? (Este blog também é cultura, oras!)
Pois bem, Big foi ver in loco o tubarão baleia, um gigantesco ser que habita aquelas paragens. Quando perguntei a ele sobre as fotos, mandou-me três. Reclamei: "Pô, mano, só isso? Cadê aquelas fotos que você prometeu mandar?". Depois de uma ligeira pausa, ele deu um suspiro e respondeu: "Fiquei sem a câmera" (aquela de última geração, com recursos incríveis e que ele ainda estava pagando em prestações). "O que houve, ela pifou?" "Não, foi engolida por um Silk..."
EU: Hein? Sik? O que é um Silk?
NAMOR: É um tubarão Silk.  Eu estava fotografando e filmando o tubarão baleia quando a máquina se soltou da minha mão e subiu. Quando eu ia pegá-la, só vi uma mancha marrom passar zunindo sobre mim e abocanhar a máquina. Não deu tempo de salvar.
EU: Hã? E como a máquina flutuou?
NAMOR: É que a concentração de sal naquela região do Pacífico é bastante alta, fazendo tudo flutuar. (Não disse que esse blog também é cultura?). O tubarão Silk está sempre rondando os barcos e os grupos. Ele costuma abocanhar tudo o que cai na coluna dágua (tudo mesmo).
Não resisti e caí na gargalhada. "Quer dizer que o tubarão Silk é o esfomeado trombadão dos oceanos? Caramba, ele deve ser parente do crocodilo do Peter Pan e da baleia do Pinóquio!!!"
Claro que o Big não achou graça nenhuma. É a segunda câmera que desaparece no fundo do mar este ano. Pra mim, ele andou fotografando o que não devia e a câmera foi confiscada pelos homos mermanus. No caso dele, tenho certeza de que esse roubo foi encomendado. Essa história de ficar fotografando tubarão baleia... não sei não... com certeza aí tem barbatana de algum tubarão dos grandes...
Falando sério, o glutão engoliu "trocentas" fotos preciosas, além de vídeos. Big carregará na memória tudo o que viu, e o famélico Silk, se tudo der certo, terá a pior indigestão de sua existência, sem direito a sal de fruta!
Pois é... Nem no fundo do mar a gente escapa do latrocínio. Isso lá é evolução, senhor Darwin?



Procura-se

Tubarão Silk de 3,5 metros, acusado de latrocínio e receptação de mercadoria roubada.
O meliante é perigoso e costuma, literalmente, comer as evidências e as testemunhas.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Família, família...

O IBGE diz que família são as pessoas que vivem sob o mesmo teto (mesmo que não sejam parentes consanguíneas). Aprendi que família é quem cuida da gente, morando junto ou não.
O fato é que o conceito de família pode ter diferentes definições dependendo da cultura e das crenças de cada um. É adequado respeitar todas elas (mesmo não concordando).
Família pode ser grande ou pequena, mononuclear ou não. Tradicional ou disfuncional (creio que todas têm um pezinho na disfuncionalidade). Pode ser ampliada ou reduzida, de acordo com as circunstâncias.
Quando eu era pequena e a família se reunia para um evento, parecia gigantesca. Com o passar dos anos, alguns foram para longe, outros sumiram, outros fizeram "a" viagem... Os que casaram, agregaram cônjuges, filhos. Alguns se divorciaram, casaram novamente, tiveram outros filhos. Mas algumas perdas marcam, como tios, tias, padrinhos, tios "adotivos"...
No aniversário de 81 anos de minha mãe, foi possível reunir alguns membros da família. Nem sombra do que era, dada a distância dos parentes e um triste distanciamento entre alguns integrantes (mesmo morando perto).
O ponto alto do dia foi quando chegou um casal, com cara de "Acho que erramos de festa". A esposa, segurando uma bebê no colo, comentou: "Será que é a festa certa?". Eu, querendo ser simpática, perguntei: "Vocês vieram para a festa da Dona Regina?". Diante da resposta afirmativa, sorri e disse: "Muito prazer, sou a filha dela, Célia". O homem respondeu: "Muito prazer, sou seu primo Carlos".
Eu não havia reconhecido o primo com quem brincava na infância e não via há uns 30 anos!!! Todo mundo caiu na gargalhada. Fiquei muito sem graça, e depois que reparei bem nele reconheci o primo-garoto de antes. Ele comentou: "Não tem jeito, prima, a gente se distanciou mesmo". É verdade, mas devo reconhecer que quem se afastou mais fui eu. Morando longe, deixei a distância ganhar força. Percebi que não me mantive conectada ao grupo, ao contrário de meu irmão e minha irmã. Tudo bem que a distância dificulta, mas não impede um contato. Mesmo quando não há intimidade, pode haver um "fazer-se presente".
Assim é a vida. A gente vai e vem, se afasta e se reencontra. E como é bom reencontrar pessoas de quem a gente gosta (ou costumava gostar).
Sei que vou continuar avoada, desligada e viajante, ainda quero ir pra longe,conhecer terras distantes. Mas agora vou carregar a família comigo, em fotos, porque descobri que meu gravador de alma está com pouquíssima memória!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Vida, mães, pais e envelhecimento

Um dia você se dá conta de que envelheceu. Até aí tudo bem. Envelhecer faz parte do "pacotão" chamado VIDA. As feições mudam, os cabelos ficam ralos, algumas dores oportunistas se anunciam, você percebe que tinha células adiposas em lugares "nunca dantes navegados"... Até aí tudo bem também. O difícil, algumas vezes, é encarar que, assim como você, as pessoas que você ama também envelheceram. Não falo das sobrinhas que até ontem andavam dando pulinhos e gritinhos, com as fraldas aparecendo debaixo dos vestidinhos floridos, que adoravam as bonecas e pulseiras com brilho que ganhavam e que hoje conversam sobre namorados, ficar, beijar na boca, etc., etc... Isso também faz parte do pacote ou, como diz meu irmão, "tá embutido no preço da passagem".
Quando seus pais entram na casa dos 80 anos e os problemas de saúde mais simples se tornam verdadeiras ameaças e a casa que durante anos foi reino e domínio deles se torna uma armadilha para tombos, quedas e outros acidentes, é preciso respirar fundo e aceitar que nada mais será como antes. [Já não era, mas você preferia evitar pensar no assunto.]
Sentada no chão do quarto de meus pais, fiquei olhando para o rostinho emagrecido e enrugado de minha mãe. Voltei no tempo uns 25 anos, quando um cardiologista vaticinou que ela teria poucos meses de vida. Todas as manhãs eu corria até o quarto para verificar se ela estava respirando. Foram meses de medo e tensão. Depois de um ano, relaxei. Depois de dois anos, esqueci.
Volto para 2010. Agora olho para meu pai que, graças a uma compleição de super-herói, passou praticamente ileso por um AVC. A taxa de glicose, no entanto, saltou: ele está, oficialmente, diabético.
Um amigo me disse: "Depois de uma certa idade, as coisas mudam. Vá se preparando..."
Impossível se preparar para o que quer que seja.
Só sei que curto cada instante com eles. Tenho vontade de agarrar os dois e ficar abraçada até eles se cansarem. Quero guardar o cheirinho deles. O olhar. O sorriso. Guardá-los, eternizá-los DENTRO de mim.
Outro dia pulei na cama deles como quando tinha 5 anos. Eles voltaram a ter 30. Rimos muito. [O riso rejuvenesce.]
Então, quando me olhei no espelho, vi uma mulher de mais de 40 anos que tinha virado menina de novo. E essa menina agora caminha lentamente, todas as manhãs, até o quarto dos pais para verificar se eles estão respirando...

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Chega do faça você mesmo...

Cada vez mais percebo o quanto somos pressionados a ser completos, autossuficientes, perfeitos, independentes, onipotentes e... econômicos... Mas a que preço!!!
Vivendo sozinha há muito tempo, acabei tendo de aprender a fazer pequenos consertos e ajustes que antes deixava de bom grado para um espécime do gênero masculino.
Também acabei aprendendo a fazer tarefas atribuídas, mais especificamente, ao gênero feminino, tais como depilaçao, pedicure e manicure...
Posso dizer com toda a certeza que CANSEI!!!
Reconheço que é ótimo ver algo feito por você mesma e se exibir para os amigos e amigas, mas nem sempre o trabalho e o empenho valem a pena. Alguns resultados ficariam muito melhores nas mãos de profissionais qualificados e experientes.
Comecei trocando o sifão da pia. "Moleza", pensei. Apertei a braçadeira o máximo que pude e fiquei sorrindo, admirando o resultado. Duas horas depois estava com a cozinha completamente alagada. A braçadeira escorregou, o sifão saiu do lugar e eu só percebi quando a água já estava fazendo uma pequena cachoeira no paneleiro. Para completar a cena, a porta do armário de copos caiu na minha cabeça, pois os parafusos que a seguravam se soltaram. Quando fui abrir o armário para pegar uma jarra, ganhei de presente um galo na cabeça.
Depois cismei de pintar as paredes do meu apartamento e o teto do banheiro. Nem vou repetir aqui o que já descrevi num post anterior. Ainda tenho dores nas costas por conta do mau jeito na escápula (antiga omoplata). Mas o efeito da tatuagem na parede ficou fenomenal. Ponto pra mim!
As últimas investidas foram um pouco menos dolorosas, do ponto de vista físico, mas devastadoras no aspecto moral.
Quis modificar minha sobrancelha, que nas priscas eras era comparada à da Malu Mader ou à do Mazzaropi, quando eu deixava crescer.
Peguei minha pinça alemã (um fenômeno, segundo a atendente da loja de cosméticos que me vendeu) e me atirei ao trabalho. Usei um super espelho de aumento para enxergar os pelos de perto. Parecia mesmo uma selva.
Quando terminei, achei que algo estava estranho, mas não me toquei do que poderia ser. Já era madrugada e eu estava cansada demais. Fui dormir e até esqueci das sobrancelhas.
No dia seguinte, ao entrar no banheiro descabelada e com a cara mais amassada do mundo, tomei um susto danado ao ver a versão feminina do Jack Nicolson em "O Iluminado" no espelho. No lugar do machado, uma pinça assassina. As crianças do prédio me evitaram durante dias. [Será que foi por isso?]
Fui desencravar a unha do dedão, durante o jogo do Brasil. Na hora do primeiro gol contra nem sei quem levei um susto tão grande que arranquei um bife enorme. Inflamação... dor...
Não satisfeita, resolvi fazer a "Brazilian Wax" (Depilação brasileira - total) sem a wax (cera). Usei um depilador que arranca os pelos. (Por favor, tirem as crianças da frente do computador. O assunto vai ficar constrangedor, mas nada cabeludo). Por pouco não arranquei os pequenos e grandes lábios também. Descobri que naturistas e hippies não se depilam. Aderi à causa.
Uma das últimas investidas foi refazer a decoração do quarto. Sempre alimentei o sonho de ter uma cama com dossel. Mas não um dossel qualquer e sim um que lembrasse a cama da Elizabeth Taylor/Cleópatra no filme homônimo. Creio que era uma cortina de tule, de seda, de algo translúcido... Enfim, encontrei na internet um  mosquiteiro modelo dossel de teto que se encaixava no meu bolso e nos meus sonhos. Encomendei o dito-cujo e aguardei a entrega. A empresa envia uma guia de papelão para colar no teto e marcar os locais dos furos, um guia de como instalar, buchas, parafusos e até a broca para a furadeira!!!
Peguei a furadeira emprestada do porteiro e pedi uma escada para a vizinha de cima. Avisei a ela que faria barulho para colocar quatro parafusos no teto. Caso ela ouvisse algum barulho estranho, além da broca da furadeira varando o teto que, por favor, corresse para me acudir. Provavelmente eu estaria em apuros.
Pra começar, a guia de papel se embolou e na hora de prender eu a rasguei. Além disso, ela era para uma cama king size. Minha cama, além de ser japonesa, no chão, é tamanho padrão. Nessas horas eu me arrependo de ter dormido nas aulas de matemática, geometria e física. Fiz cálculos complicados tentando achar a distância do ponto equidistante ou o meridiano da cama em relação à parede... [Aaaai, que sono!]
Bem... resumindo, acabei marcando os locais dos furos utilizando o método científico mais antigo que existe: o "DSPA" (Deve Ser Por Aqui).
Furadeira em punho, broca encaixada, comecei o primeiro furo. Uma manteiga! Sorri satisfeita e pensei no quanto as mulheres se fragilizam perante os homens, deixando que eles façam coisas simples que elas mesmas poderiam fazer... (Como fui tola!)
Na hora de fazer o segundo furo, a broca só entrou até a metade. Havia uma viga de concreto entre a broca e o final do furo que eu queria fazer.
Pensei: "É só deste lado. Vou furar do outro lado. Acho que a viga de concreto sacou meus planos e se mudou para o outro lado. A broca nem entrou. Fiquei tentando furar e não consegui. Interfonei para o porteiro. "Oi, sr. D. Tudo bem? Tem certeza de que sua furadeira é das mais potentes? Ela não está furando!". Do outro lado vieram a risada, a resposta e duas perguntas: "Essa furadeira é profissional. A senhora está usando broca de concreto ou de madeira?  Está usando o martelete?".  (Broca de concreto? Martelete?) Diante de meu mutismo, o sr. D. me pediu que levasse a furadeira e a broca para ele ver. Não podia sair da portaria naquele momento. Fui até lá e ele pacientemente checou a broca (Sim, era de concreto) e me ensinou a usar as duas funções da ferramenta: a furadeira simples e o martelete. "A senhora não quer que eu fure? Depois do serviço eu posso ir lá". "Não é preciso, obrigada. Agora eu já sei o que fazer." "Voltei para o quarto, coloquei a furadeira na tomada, girei a chave para a função martelete, subi na escada como um atleta sobe no pódio e liguei a danada. Quase caí no chão por conta dos marteletes e socos que a broca deu no concreto. O buraco ia alargando, mas não aprofundando, como seria o correto. Os braços doíam. Parei. O interfone tocou. "Alô!". Do outro lado, a vizinha, com voz preocupada, aconselhava: "Celinha, tá tudo bem aí? Você tá com dificuldade, né? Não ouvi o barulho certinho dos quatro furos... Chama o seu D. pra furar pra você." É verdade. Até pra fazer furos existe um jeito certo. Intefonei para o sr. D. e pedi que fosse fazer os furos. Meus braços tremiam por conta da força descomunal que fiz  - tentando vencer o concreto empurrando a broca... tolinha!!!
Em 15 minutos ele fez os três furos que eu penei pra tentar fazer em mais de uma hora.
Nem me cobrou nada. Só sorriu. Ah! Esqueci de dizer que resolvi checar se a broca estava bem encaixada e queimei os dedos. Ninguém me avisou que o atrito do metal no concreto produzia tamanho calor. [Ou será que perdi essa aula enquanto dormia?]
Na hora de pendurar o mosquiteiro, um pequeno contratempo: um gigantesco lustre vietnamita bem em cima da cama. E agora? Era preciso fazer um pequeno furo no mosquiteiro para passar a fiação do lustre e assim deixá-lo dentro do dossel. Vou poupar você, leitor(a) de detalhes, mas imagine alguém que acaba de desligar a chave geral do quadro de luz - porque vai mexer com os fios desencapados do lustre e passá-los  por um minúsculo buraquinho feito no mosquiteiro, a fim de não estragá-lo muito -, com medo de tomar choque, tentando enxergar alguma coisa num quarto na penumbra, trepada numa escada do tipo "balança mas não cai". (Minha amiga S. diz que eu tenho mais sorte que juízo). Resultado: essa criatura deixou o lustre cair e a lâmpada se espatifou no chão.
Caramba, esse post está ficando parecido com aquele comercial da faca Ginsu. (Pensa que acabou? Nãããão! Não mande dinheiro agora, pois ao comprar este jogo de facas você ainda recebe a maravilhosa picadora de legumes...). Ou seja: calma que tem mais...
Voltando ao quarto: depois de penar, pendurei o mosquiteiro. Varri o chão, juntei os caquinhos da lâmpada, tirei o pó, arrumei as pedrinhas em volta da cama, coloquei os abajures (que eu mesma fiz, com esteirinhas de bambu), as velas... enfim, ajeitei o quarto como pude. Queria um ambiente relaxante, quase um spa.
O dossel-mosquiteiro, nem preciso dizer, ficou torto. Um lado pende mais que o outro e, na cabeceira, ele ficou muito em cima do travesseiro. "Pois vai ficar assim mesmo", bufei.
Passado mais de um mês dessa aventura, concluí que de nada adianta ter uma cama de princesa se você não é uma princesa.
Por três vezes, ao acordar e me espreguiçar, enrosquei o braço, a mão ou o relógio no dossel e ele veio abaixo. Fiquei presa debaixo dele como um peixe na rede. Poderia até bancar a superior e dizer que fiquei presa como uma sereia na rede, mas sou honesta. Mentir é feio. Quando acordo posso parecer muitas coisas, menos uma sereia. Na verdade, senti-me como a Dolly, o pai do Nemo e as sardinhas do desenho animado, na cena do barco de pesca puxando a rede.
Agora, o dossel sai do bocal do lustre. A cada enroscada e queda ele cede um pouco. Começo a achar que qualquer dia desses vou acabar com o raio do dossel enrolado na minha cintura... como um tutu. Aí, com certeza, saberei que dancei!