domingo, 27 de dezembro de 2009

O meu jabutiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

Quando recebi a notícia de que um de meus livros havia ganho (ganhado?) o prêmio Jabuti (segundo lugar na categoria melhor livro didático/paradidático), demorei para acreditar. Estava na Inglaterra, estudando, e recebi a notícia por e-mail. (Chorei por não estar perto das pessoas que fariam festa comigo, mas os amigos estrangeiros foram queridíssimos!). Não pude ir à mega festa de entrega do prêmio, por conta da distância que me separava da Sala São Paulo. Meu pai me representou, todo prosa (pai de escritora premiada é como mãe de miss...). O fato é que só fui colocar as mãos no meu quelônio no dia 22 de dezembro, quando cheguei na casa dos meus pais para o Natal. Primeiro, olhei para aquela estatueta que eu desejo há tanto tempo. Não conseguia nem tocar nela. Depois, a segurei nas mãos. Girei devagar, olhei cada detalhe (e conferi o alfabeto gravado no casco, para me certificar de que as letras K, W e Y estavam lá...) Esse é o segundo prêmio Jabuti que eu seguro. O primeiro era de um livro que editei e que ganhou o Jabuti. Mas não era meu e me foi tirado das mãos pelo ganancioso dono da editora. Já esse jabuti na minha frente é meu, mesmo tendo de dividir os méritos com outros 2 autores (somos 3 autores). Coloquei a estatueta em cima da cama e fiquei olhando para ela. Batizei-a de Jajá. Lembrei de tudo o que vivi até hoje na carreira editorial, como editora, ghost writer e escritora. Por conta disso, não senti nenhuma emoção. NADA! Quanto sofrimento na carreira! Mas essa estatueta é um símbolo, um objeto que me lembra de algo bom, de um reconhecimento pelo excelente trabalho feito, então por que não grito de alegria, não me animo e não saio correndo por aí mostrando o prêmio pra todo mundo? O que houve comigo? Há algum tempo eu estaria berrando aos 4 ventos: "Ganhei um prêmio!" Algo mudou em mim, muito e bem fundo. Olhei para a minha estatueta e perguntei: até que ponto somos realmente donos daquilo que recebemos, Jajá? Você pertence a mim ou a um sonho que tive? Uma ideia compartilhada? Ela pareceu me olhar e apontar o futuro... "Continue escrevendo, Célia. Continue fazendo aquilo para o que você nasceu. Não desista. Você está no caminho certo, mas não se envaideça e não ache que atingiu o ápice e é melhor que os outros. Sempre haverá alguém melhor que você. Continue se aperfeiçoando... devagar e sempre... e prepare o casco... você vai precisar de toda a proteção de que puder nesse mundo de egos inflados e opiniões divergentes. Vá em frente e não desista. Lute pelo que você quer. Eu sou a prova de que você pode conseguir tudo o que desejar."

Depois desse "papo-cabeça" com minha estatueta, senti um nó na garganta. Começou a chover, meus olhos choveram também e me lembrei de um trecho de uma música do Sting "On and on the rain will say how fragile we are, how fragile we are..."

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Como criar um delinquente

Dê uma arma de brinquedo para uma criança em todas as ocasiões festivas: Natal, aniversário, dia das crianças...
Deixe-a assistir aos programas de TV dos canais abertos, sem antes avaliar se são adequados, sem conversar sobre o que se vê nos filmes e desenhos.
Evite contato visual quando ela perguntar algo cuja resposta você não sabe e enxote-a da sala.
Não a abrace nem beije... Aliás, não demonstre afeto (porque isso diminui a hierarquia existente entre vocês).
Nunca demonstre que se importa com ela e com o que ela pensa e sente.
Não fale de assuntos delicados e controversos, forçando-a a ir buscar respostas e explicações em outras fontes.
Evite ao máximo pôr limites; evite dizer NÃO e dê tudo o que ela quiser.
Deixe-a solta e livre para fazer o que quiser. Afinal, ela precisa desenvolver autonomia!
Deixe para a escola a tarefa de educá-la. Mas quando a professora chamar a atenção para algum comportamento inadequado da criança, culpe a professora e a escola!
Dê sempre uma desculpa para qualquer comportamento dela e diga: "É apenas uma criança!". Repita essa frase até que ela complete 18 anos e seja tarde demais para salvá-la do seu descaso e da sua negligência.
Com um pouco de sorte, talvez você não seja a primeira vítima do monstrinho que você mesmo(a) criou.


Este texto foi escrito em homenagem a irresponsáveis pais, tios, padrinhos que insistem em presentear crianças com armas - contribuindo para a deturpação do que seja brincar - e a valorização da beligerância. Fui abordada por um garoto de uns 10 anos, imitando perfeitamente um assaltante de rua. Ele levantou a camiseta e me mostrou uma arma na cintura, enquanto ordenava:"Passa a grana". (Já fui assaltada assim e me espantei com a perfeição da imitação, mas não achei graça alguma.) Diante de minha total falta de cooperação com a estúpida brincadeira, o garoto sacou a arma e me deu um tiro à queima-roupa no peito. A arma, uma dessas modernas engenhocas de pressão, disparou um projétil com tamanho impacto que senti uma dor ardida no peito. Ficou uma marca vermelha na pele, onde a bala bateu. Teria atingido o coração, se fosse de verdade. Disse a ele que aquela arma machucava pessoas. A reação do menino? Disparou mais duas vezes. Reagi como qualquer vítima teria reagido: catei o moleque pelos cabelos e o botei pra correr. Torci para algum pai indignado vir tomar satisfação. Não veio.
Não há colete a prova de bala, nem escudo, que nos defenda da ignorância e da falta de bom senso...

Natal

Fiz as pazes com o Natal há pouquíssimo tempo. Há anos não via sentido em me empanturrar de comida e trocar presentes e juras de felicidade, em uma noite, com as pessoas com quem eu mais me estressava ao longo do ano: minha família!!!
Mas, como eu sempre digo, "ainda bem que a gente muda e é lavável"! Podemos mudar se quisermos. Podemos dotar de novos significados coisas antigas. Podemos fazer algo ruim deixar de ter aquele peso todo... Podemos aceitar as pessoas como elas são e aproveitar os momentos que passamos com elas. Fiz isso. Não foi tão difícil, mas levou alguns anos. Hoje vejo essa ocasião como um momento para estar com as pessoas que amo. Talvez o único momento do ano em que realmente estou 100% com minha família. Olho para cada um deles e agradeço por ter com quem compartilhar o tempo, o alimento, o amor e o carinho. Recebo deles o que podem me dar (e sei que me dão muito) e dou o que tenho condições de dar. E me sinto muito feliz ali com eles. Quando eu tinha 20 anos queria estar longe, livre e solta, fazendo coisas "incríveis". Depois de 23 anos, descobri que a coisa mais incrível que eu fiz foi mudar minha vida e meu jeito de ser e agir. E minha família esteve sempre ao meu lado, apoiando. Hoje percebo o quanto cada um deles é parte de mim e o que eu mais quero é estar com eles, mesmo que seja só por uma noite! O Natal nunca mais foi o mesmo depois que descobri isso...

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

FIM???

Minha aventura pelo Reino Unido acabou... Na verdade, a viagem terminou, mas o que foi vivido lá perdura, e tenho me comunicado com os amigos que fiz por aquelas bandas. Se vamos continuar nos falando eu não sei, mas o certo é que trago muita gente dentro de mim, agora. E tenho material para escrever livros por muuuuuuuuuuuuuito tempo. Minha amiga Solange me perguntou o que foi o melhor da viagem. Respondi sem pestanejar: AS PESSOAS!!!
Acredito que o que nos torna humanos é a convivência com outros seres humanos. O que nos modifica é o contato com realidades diferentes da nossa, com pessoas cujas histórias e trajetórias são mais incríveis que os filmes que assistimos, pois são pessoas reais, e não personagens. Com isso, aumenta nossa responsabilidade em contribuir para que o mundo seja um lugar melhor, mais tolerante e justo.
Meu grande desafio, agora, será converter tudo o que vi, vivi e senti em livros, tanto de histórias quanto paradidáticos. E quero ganhar mais um jabuti. Ou melhor: uma colônia inteira de jabutis.
Mais que isso: Quero fazer mais e mais amigos, em todos os cantos do planeta (e quem sabe fora dele!).
Acho que minha real jornada acaba de começar.
Obrigada por sua companhia nesses 3 meses. Obrigada por sua torcida e cumplicidade.
Continuarei a escrever no blog, contando o dia-a-dia de uma escritora que num dado momento da vida decidiu realizar um sonho antigo, e descobriu que esse sonho podia se multiplicar em mil outros sonhos.
Com certeza terei muitas histórias pra escrever aqui. Não desista de mim e volte sempre a este blog.
Ah! E não desista dos seus próprios sonhos. Vale a pena tentar realizá-los.
Beijo no coração,
Célia
Até a próxima!

De volta à vida real

Depois de 2 dias totalmente fora do ar, começo a me sentir eu mesma novamente. A casa está de pernas para o ar: malas, roupas, papelada, contas (e mais contas), livros... tudo espalhado, aguardando um lugar definitivo.
O sono está atrapalhado, o corpo dói, a cabeça se nega a funcionar e também não pega no tranco.
É bom estar de volta, mas uma parte de mim está na Inglaterra, na Espanha, no Japão, na Coréia, na Venezuela, no Paquistão, no Irã. Esses lugares, antes tão distantes para mim, agora me são familiares por conta dos amigos que tenho lá. Quando ouço alguma notícia sobre o Paquistão, penso na Salma. (Foto ao lado)
Se a notícia vem do Irã, meu coração se aperta por causa da Oranous (na foto abaixo, comigo).
Quando comentei isso com meu irmão, ele disse: "É, maninha, o mundo agora está menor para você." Escrevi para a Ita Mascia e citei esse fato. Ela respondeu: "Seu irmão é um homem sábio" (Your brother is a wise man).
É verdade! Ele resumiu tudo. Meu mundo encolheu. Mas meu coração cresceu, mano. E já não cabe mais no meu peito...

O retorno (dos infernos)

No dia 6 de dezembro, às 4h da manhã, cheguei no aeroporto de Heatrow. Os guichês para o check-in só abriram às 5h. O vôo sairia às 6h40.
Quando fui fazer o check-in, o operador disse que eu não podia embarcar pois havia uma incorreção na minha passagem. Algo a ver com minha idade e a tarifa...
Tive de ir ao guichê de passagens e a atendente explicou que minha passagem estava errada, pois aquela tarifa era exclusiva para estudantes entre 12 e 35 anos. Como eu tenho 43 anos, não poderia utilizar aquela passagem. O sistema não aceitava fazer o check-in. Minha idade era inaceitável, estava fora da faixa etária permitida.
Expliquei que viajei do Brasil para Londres utilizando aquela mesma tarifa, pela Air France, e não tive problemas.
A atendente respondeu rispidamente: “Vocês [estrangeiros] têm de entender que as coisas aqui são diferentes. Não importa se você veio com essa tarifa. Ela está errada e você não pode utilizar essa passagem.”
Respirei fundo, engoli a vontade de dizer coisas desagradáveis para ela e disse: “O que deve ser feito, então?”. “A tarifa precisa ser corrigida.”
Como sei que tudo naquela terra gira em torno de dinheiro, perguntei qual era a diferença a ser paga. “350 libras” ela respondeu.
Respondi que não tinha o dinheiro e que precisaria falar com alguém da agência brasileira que fez a compra da passagem, para pedir ajuda na solução do problema. Depois lembrei que era madrugada de domingo, e provavelmente não conseguiria resolver nada. Perguntei se havia alguma outra forma de resolver o problema. Ela disse que não e que eu teria de esperar até segunda-feira para conversar com vocês.
Perguntei se a Air France pagaria um hotel para mim, pois eu não tinha mais onde ficar, nem dinheiro para pagar uma diária. A resposta dela foi negativa, claro!
Olhei nos olhos dela e disse: “Quer dizer que uma pessoa com mais de 35 anos não pode ser estudante? Eu sou realmente uma estudante. Você pode até achar que fiz a compra com intenção de enganar a companhia, mas não é verdade. A compra foi feita pela minha agência.” E mostrei minha carteirinha da Twin Towers, junto com toda a papelada que eu tinha. Ela disse que as agências cometem muitos erros, conferiu tudo e se convenceu de que eu não estava lesando a empresa. Mesmo assim, foi categórica: “você tem de comprar outra passagem.”
Nessa altura, o tempo tinha voado e percebi que iria perder o voo se não pagasse. Não tinha dinheiro para comprar outra passagem e estava me sentindo extremamente exposta e humilhada (tinha um monte de gente em volta, curiosa pra saber o que estava acontecendo). Não consegui segurar o choro. Disse a ela que toda aquela situação era extremamente embaraçosa, que eu estava me sentindo humilhada por ser alvo de suspeitas e não entendia por que havia dois pesos e duas medidas naquele caso. Se a empresa é uma só e as regras devem ser claras e únicas, por que a Air France me permitiu embarcar no Brasil? “Isso é discriminação. Sou considerada velha demais para ser estudante e parece que estou sendo punida por isso! Não tenho culpa se alguém cometeu um erro. Eu só quero voltar pra casa. Além disso, tenho de sair do Reino Unido pois só posso ficar aqui por 3 meses, e já esgotei esse tempo estudando.”
Ela respondeu que não criava as regras, só as seguia. Mas quando eu disse que estava ali há 3 meses, ela fez uma cara de “acho que vi uma luz no fim do túnel”, fez uma busca no sistema e achou uma tarifa para quem fica 3 meses ou mais. Disse que eu teria de pagar apenas 21 libras para fazer o acerto da diferença. Aceitei na hora, pois queria sair dali o mais rápido possível. Consegui voltar para o check-in faltando 2 minutos para o encerramento. Não queriam me deixar despachar as malas, pois cada uma pesava 30 kg. Expliquei que era permitido, sim, e que compras de passagens efetuadas no Brasil têm essa franquia de bagagens. Disso eu tinha certeza, pois conversei com várias pessoas da Air France no Brasil. O atendente foi confirmar essas informações e finalmente pude finalizar o check-in. Fui a última passageira a entrar no avião. Chegamos em Paris e fui fazer a conexão com o coração na mão, achando que a qualquer momento me chamariam pelo microfone e diriam que eu tinha de pagar mais alguma coisa... Não aconteceu (Ufa!)
Já embarcada na capital francesa, extremamente cansada e estressada, sentei na minha poltrona, na janela, e fui abordada pela minha "vizinha" que queria que eu trocasse de lugar com a amiga dela, que estava bem no meio de uma fileira tripla. "Não vou sair daqui", respondi. A mimada garota me deu cotoveladas o voo todo, mostrando que não tinha maturidade alguma, muito menos bom-senso. Desliguei a chave da vontade de enfiar a mão no narizinho empinado dela (só iria me complicar) e tentei curtir o restante da viagem e assistindo filmes e desenhos para me distrair.
No trecho de voo sobre o oceano Atlântico, uma forte turbulência colocou a tripulação em alerta. Os trancos foram fortíssimos e os passageiros estavam apavorados. Num dado momento, lembrei daquele voo da Air France que caiu, na viagem de ida. Pensei "Só falta esse voo cair na volta". Não se passaram nem 5 minutos e achei que iríamos cair, de verdade. O tranco foi tão violento que quase molhei as calças.
Pisar em solo brasileiro foi um alívio. Peguei minhas nada pequenas nem leves malas, fui ao Duty Free, passei pela alfândega sem problemas, fiz novo check-in (dessa vez na TAM) e tomei o avião para Curitiba. Tivemos de aguardar na pista por mais de uma hora. Finalmente, decolamos.
Voo tranquilo, sem sobressaltos.
A cidade estava iluminada, a temperatura, amena. Cheguei em casa exausta, dolorida e sentindo uma sensação de estranheza imensa. Ainda não voltei ao normal.
Ainda estou digerindo o que houve na volta, tentando entender que lição eu devo tirar disso tudo.
Talvez tenha sido um teste para o meu inglês. Talvez um teste para minha capacidade de resolver problemas. Ou talvez a prova da incompetência de alguém. Não sei. Já passou, mas me deixou marcas, naquele dia. Fui humilhada, exposta, tratada como uma farsante. Para processar a Air France eu teria de ter testemunhas da humilhação. Infelizmente, eu estava sozinha. Não tenho como provar.
O que eu posso fazer, de agora em diante, é boicotar a Air France (e farei isso, com certeza!) e usar o meu dom da palavra para alertar as pessoas e ajudar futuros passageiros a evitar situações vexatórias.
Talvez a lição a aprender é: tudo de ruim que você viver, reverta em algo bom para o maior número de pessoas possível. Então, pessoal, quando forem comprar passagens de avião, verifiquem todas as especificidades e chequem tarifas ditas especiais. Algumas são armadilhas.
E evitem a Air France...

Despedidas (6)

No dia 4 de dezembro a escola promoveu uma festa de fim de ano. Foi uma delícia. Dancei samba e ensinei o pessoal a dançar. Jessika aprendeu rápido. Parecia até uma legítima sambista brasileira (deve ser o sangue latino). Mariko pegou o jeitinho devagar, depois de muito observar. Vai levar a técnica para o Japão e continuar treinando. Acho que vou gravar um vídeo e postar no Youtube...




















sábado, 5 de dezembro de 2009

Criando laços

É incrível como é possível criar laços fortes em pouco tempo, com algiumas pessoas. Fiquei apenas um mês em Londres, e quando cheguei estava muito triste, mas nada como o tempo...
Ganhei novos amigos. Alguns com certeza ficarão no meu coração pro resto da vida.
Fiz caipiroska no intervalo da aula (na sala de aula mesmo!), em plena luz do dia (cinzento e chuvoso, por sinal). Foi uma festa. Os iranianos trouxeram tanta comida que daria pra alimentar a escola toda! Aude (Suíça) trouxe chocolate, Ori trouxe pistache. Erik, o professor, fingiu estar embriagado. Foi bem divertido, mas não conseguimos ter aula depois do intervalo. Toda vez que o professor perguntava o que estava errado em algum exercício, eu respondia, meio alegrinha: "Não faço a menor ideia, e também não estou nem aí!"








Foto com as colegas da tarde e Cara, a professora. Ela me lembra a Kate Blanchett.

Novos amigos

Desfrutei de momentos deliciosos com a família Mascia. Olivia e Fabio são crianças simplesmente adoráveis. Ita e Luciano têm um nível elevado e nossas conversas eram muito cabeça. Apesar de meu inglês ser considerado avançado, muitas vezes fiquei à deriva naquele mar de expressões e phrasal verbs (daí minha exaustão mental).

Já está chegando a hora de ir...

Estou me preparando para a volta. Sentimentos mistos - alegria e tristeza - se fazem presentes. Também fui pega de surpresa pelas manifestações de carinho dos colegas e professores. Sim, fiz amigos aqui. Não escrevi muito durante minha temporada em Londres porque o ritmo da cidade, da casa e da escola é bem diferente. Confesso que estou beirando a exaustãqo mental (e física).
As fotos a seguir são de um jantar num restaurante indiano. Da esquerda para a direita:
Behruz, Anooshed (Iran), Juliana (Brasil), Anooshed, eu, Matteo
(itália), Jessica, Jesus, Diana (venezuela).

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Mais fotos das Highlands

Mais fotinhos... O búfalo-touro é o Hammish, famosíssimo por aquelas bandas.









Highlands and Loch Ness

Mais fotos pra vocês. Reparem na indumentária da criatura que vos escreve. Peguei menos 3 graus...









Highlands and Loch Ness


Fui conhecer as famosas Highlands e o Lago Ness (isso mesmo -aquele do monstro).
As montanhas e os vales me lembraram Campos do Jordão. [O Brasil é realmente incrível, gente, há de tudo um pouco na nossa terra abençoada. Não é de admirar que os gringos amam nosso país. Eles conseguem se sentir em casa...]
No caminho, uma parada num belvedere e uma surpresa: um gaiteiro. Não era o melhor dos pipers, mas ele nos brindou com uma tradicionalíssima música escocesa tocada na sua "bag pipe" e, de quebra, tínhamos uma paisagem incrível ao fundo. Filmei um trechinho. Espero que vocês consigam assistir. E não reparem na posição deitada do vídeo. Esqueci que quando se filma na posição vertical, não é possível girar a imagem como uma fotografia...

Edimburgo


Depois da correria para pegar o trem, finalmente segui para a terra de Sir Sean Connery, de William Wallace, do legítimo uísque escocês, do lago Ness...

Cheguei à tarde e percebi que o fim de semana seria gelado. Às 15h30 a temperatura era de 3 graus. Fui a pé para o hotel e larguei as coisas lá. Corri para o castelo. Cheguei às 16h. A visitação terminaria às 17h. Entrei assim mesmo. Quando saí, às 17h10, estava noite fechada. Temperatura: 1 grau. Andei pela Old Town, entrei nas lojas de kilts e de cacarecos, me diverti. Fui jantar num pub e comi dois dos mais típicos e tradicionais pratos escoceses: 1) Haggies, neeps and tatties: vísceras de carneiro com aveia, cozidas no intestino do bicho, purê de nabo e purê de batata. (Comi primeiro e perguntei bem depois!) 2) Cullen Skink: sopa cremosa de batata com cebola e haddock defumado. Para acompanhar, uma cerveja escocesa deliciosa (suave e docinha), cujo nome infelizmente esqueci de anotar. Voltei para o hotel a pé, sob um frio de não sei quantos graus negativos. Tomei um banho "pelando" de banheira, caí na cama a apaguei. O dia seguinte seria bem cansativo, as well...




Enganos...

Fui para Edimburgo no fim de semana. Comprei as passagens (de trem) com bastante antecedência, na estação Victoria. No dia da viagem, peguei minha malinha (super básica, quase minúscula) e fui de underground (metrô) para a estação. Cheguei cedo, pois detesto correria. Procurei a plataforma de embarque para Edimburgo e nada...
Fui até a central de informações e no meu melhor inglês perguntei: "Por favor, onde fica a plataforma de embarque para Edimburgo"?
A resposta tirou meu fôlego: "Fica na estação King's Cross. Aqui só há trens para o Sul e Sudeste do Reino Unido. Os trens que vão para o Norte saem de outra estação. São 9h30. Se você se apressar, talvez chegue a tempo." (o trem partiria às 10h)
Acho que nunca corri tanto na vida. Saí feito louca, ultrapassando todo mundo. Voltei para o underground e pulei dentro do vagão. Cheguei na estação King's Cross dois minutos antes de o trem partir.
Pois é, eu não sabia que havia diferentes estações de trem em Londres. Ninguém me explicou nada, pois aqui só te dão informação se você perguntar algo. Bem, aprendi mais uma lição. O fato é: estou um bocado cansada de tentar entender os gringos, de tentar me adaptar a uma cultura diferente, a uma terra diferente, aos hábitos diferentes. O esforço tem sido tão grande que creio estar beirando a exaustão mental. Mesmo assim, continuo dando o meu melhor.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Ruídos na comunicação (de novo)

Combinei de ir ao cinema com Mariko (Japão - na foto, ao meu lado) e Jessica (Venezuela). Marcamos como meeting point a casa em que moro. Mostrei no mapa como chegar lá, dei o telefone da casa. Tudo certinho. Na hora combinada, Mariko telefonou. Estava perdida e havia esquecido o mapa em casa. Eu não conseguia entender o que ela dizia, e ela não conseguia me entender. Foi um sufoco. Pedi a ela que ficasse na frente de uma rotisseria italiana, na rua da escola (moro relativamente perto de lá) e disse: Não saia daí, estou a caminho! Assim que desliguei, lembrei que não tinha o telefone da Mariko. Saindo de casa, encontrei Jessica. Felizmente ela tinha o número. Chegamos à rotisseria e nem sinal da Mariko. Jessica ligou e, depois de uns 5 minutos de conversa, vimos a nossa japinha correndo na nossa direção. Thank God! A pobrezinha estava chorando de medo. Ai, que droga! Por causa dessa dificuldade de entendimento, minha amiguinha ficou em uma situação de risco. Eu me senti um lixo, e Mariko também, porque a gente percebeu que, além de sermos péssimas como GPS humanos, também somos meio surdas. Pra completar, fomos assistir "A Christmas Carol" e não conseguimos entender muitas palavras e expressões dos diálogos. Frustrante. Uma noite pra ser esquecida... ou não?

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Novo balanço de Londres

Prometi que mostraria o meu novo quarto (uma linda suíte), mas acabei não fazendo as fotos por puro esquecimento. No entanto, aqui vai a foto do meu cantinho londrino.
O quarto é grande e não cabe na foto toda. É confortável e aconchegante. Mas o melhor de tudo é a host family. Essa família é incrível! Luciano (lê-se Lutchiano) é italiano da Sardenha. Aos 16 anos foi para a Alemanha tentar uma vida melhor. Veio para a Inglaterra aos 18 anos, sem falar nada de inglês, e venceu aqui. Não tem sotaque algum, pelo menos para mim. Casou-se com Ita (cujos pais migraram da Irlanda, nos anos 40). Têm 2 filhos fantásticos: Olivia e Fabio (10 e 8 anos), que me ajudam a aprender expressões cotidianas e a linguagem infantil. Eles amam fazer arte, então, à noite, depois do jantar, fazemos alguma atividade juntos: porta-retrato de jornal enrolado, porta-retrato de palitos de sorvete, bijuterias, beijinho (não farei brigadeiro na Europa nunca mais!). Conto histórias para eles (em inglês, mas eles têm de corrigir os meus erros), eles leem histórias para mim, cantamos juntos e fazemos lição de casa (menos a de matemática). Agora posso dizer que Londres está sendo uma experiência boa...

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Turistando (2)


Fui a Greenwich, de barco. Visitei o meridiano 0, "onde o tempo começa", dizem os cartazes. Estranho... o tempo é uma invenção humana, para controlar as atividades cotidianas, então, por que é necessário localizar o tempo a partir de um determinado lugar? Tempo e espaço convivem desde os primórdios, é verdade, mas seria correto situá-lo em sua origem justamente ali? Altas filosofias para um fim de noite chuvoso, hein?...

Estátuas...

Algumas parecem ter vida. Outras são medíocres. A diversão, no entanto, é garantida.





Albert, darling... você poderia me explicar novamente aquela sua teoria maluca?


Bad bad boy... No donuts for you...


Te cuida, Angelina...

Turistando (1)


Há 14 anos, quando estive pela primeira vez em Londres, fiz os típicos passeios de turista. Dessa vez decidi fazer coisas diferentes, mas não resisti e acabei bancando a turista de primeira viagem. Além do tradicionalíssimo passeio pela zona central de Londres e suas ruas incrivelmente adornadas para o Natal, também fui ao museu de cera de Madame Tussaud. Ponto alto da visita; George Clooney, claro! Por causa dele, a mulherada perde a cabeça e age de forma descontrolada. Fui empurrada por um grupo de fãs ensandecidas querendo tirar fotos com a estátua dele. Entre elas, duas brasileiras muito mal educadas e extremamente grosseiras. Pensaram que eu era italiana e disseram coisas desagradáveis, quando chamei a atenção - em inglês - daquele mulherio para a fila de mulheres que aguardava, pacientemente, a vez para fazer a foto. Mal elas terminaram de fazer os comentários, eu me dirigi a elas em bom português e com escárnio: "Ah! Vocês são brasileiras, é? Tenhovergonha de vocês!" As duas sumiram. É por causa de gente como aquelas duas que os brasileiros ganham má fama no exterior. Deu vontade de dar uns sopapos nas criaturas. Bem, chega de falatório e vamos ao que interessa: George Clooney. Se é lindo e sexy como estátua deve ser três vezes mais interessante em pessoa!!!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Starting over again

Tudo na antureza se renova. É possivel recomeçar (to start over again). Assim também é a vida. Gosto de andar a pé pela cidade e apreciar a paisagem, de ver as árvores caducas, os tipos urbanos e de ouvir os diferentes falares que se espalham por aqui.
A diversidade é imensa. Na região em que vivo há, predominantemente, judeus, indianos, paquistaneses, gregos e iranianos. Difícil encontrar um inglês por aqui.
Eu achei que seria confundida facilmente com uma iraniana ou grega, mas não! Acham que sou italiana!!! (Será que é por causa do tamanho dos quadris?)
O casal que me hospeda é intercultural: ele é italiano da Sardenha e ela é metade inglesa, metade escocesa. Eu sou um quarto italiana, um quarto portuguesa, um quarto espanhola e um quarto de origem mista (índio, negro e sei lá mais o quê!). Estou realmente à vontade aqui!

Mas tanta diversidade tem um lado nada glamuroso: para estar aqui, muitos imigrantes passam por poucas e boas. Alguns não se recuperam da saudade de casa e adoecem (homesickness). Vivem isolados e tristes. Não se misturam com a população local, não aprendem a língua com propriedade, não se adaptam... Ou porque não conseguem ou porque não querem.

Triste fato: a maioria vem para cá sonhando ganhar dinheiro para voltar, e acha que a ausência será temporária e breve. Porém, um dia acordam e percebem que se passaram 20, 30 anos e eles agem como se tivessem acabado de chegar. Quando pergunto se gostariam de voltar para sua terra natal, para ter uma vida diferente, a resposta vem rápida: "Oh! Não! Agora é muito tarde para recomeçar"...

Será?



terça-feira, 17 de novembro de 2009

Recomeçando Londres

Para tranquilizar familiares e amigos, tirarei fotos da nova casa em que estou e mostrarei no blog. Estou muito bem instalada. A nova Host Family tem se mostrado especial. Estou adorando ficar com eles. Tenho um quarto amplo e iluminado e um banheiro exclusivo. O casal tem dois filhos educados, inteligentes e queridos. Agora posso respirar aliviada.
Estou realmente feliz.
Para mim, a estada em Londres começou no sábado, dia 14 de novembro.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Balanço pós-Hastings

Impossível não comparar a vida que eu tive nos últimos dois meses com essa que encaro agora.
Nem tudo foi uma mar de rosas, é verdade, mas no interior eu sinto que fui mais feliz. E lá fiz amigos incríveis, com os quais me comunico sempre que tenho conexão.
Uma coisa muito boa aconteceu: as andanças pelas colinas e ladeiras de Hastings, aliadas à comida natural-orgânica-saudável e de baixa caloria de Christiana, me rendeu 8 kg a menos. Realmente, emagreci sem perceber.
E olha que comi chocolate, bebi larger Shandy (soda limonada com cerveja), bebi vinho e mesmo assim emagreci tudo isso. Milagre? Balança com defeito? Creio que não. Minha roupa está dançando em mim, e tive de fazer mais 4 furos no cinto.
Aqui em Londres terei de ser cautelosa, pois há um café perto da nova escola que é uma perdição: tudo orgânico, fresquinho, delicioso... e calórico, como o muffin de chocolate e o de cappuccino. Afe!
Em compensação, meu almoço é apenas uma sopa, orgânica e sem sal. O jantar tem sido comida grega: mussaka, peixe frito, carne assada...
Como ainda estou me adaptando a tudo e a todos, comer tem sido uma dificuldade. A comida não desce. Mas sei que em alguns dias estarei adaptada.
Caramba, que saudade de Hastings!

Chegando em Londres

O motorista que me levou para Londres não conhecia bem a cidade (apesar de ter morado lá). Fomos para o endereço que eu tinha mas, chegando lá, uma surpresa: era uma rua comercial, estreitíssima. Perguntei se alguma outra região da cidade poderia ter uma rua com o mesmo nome. Ele ligou para a família e confirmou: estávamos no lugar errado. Como todo bom motorista “macho e autônomo” que se preza, ele não pedia informação, não tinha GPS e usava um velho mapa (que estava desatualizado). Resultado: em vez de chegar às 13h30 conforme o previsto, cheguei na casa do casal Savva às 17h. A host lady pensou que eu havia sido sequestrada e queria chamar a polícia.
Estou morando com um casal de gregos: Adam e Margarita Savva. Ele tem 73 e ela tem 70 anos. Moram em Londres há 50 anos. Têm 3 filhos e 6 netos.
A casa é bem velha e parece um museu. Tem imagem de santo pra todo lado. Estou na zona norte de Londres, uma região que foi povoada por imigrantes indianos, paquistaneses, judeus, árabes e gregos. Multicultural, como eu gosto, mas também cheia de problemas como gangues de jovens, assaltos, drogas, etc.
O mundo não me parece tão grande agora.

Mas o que me incomoda tremendamente é o quarto que me deram. É realmente minúsculo, sujo e desconfortável. Um muquifo. Impossível ficar lá. Reclamei na hora e me puseram no quarto da outra estudante, o que também não é bom, pois pagamos por quartos individuais. Reclamei de novo, e de novo, e de novo... agora a escola está providenciando minha mudança para outra casa. Na foto, o quartinho nada aconchegante, padrão "standard" de Londres...

Adeus Hastings

“Já está chegando a hora de ir, vim aqui me despedir de vocês...”
Como bem diz a música de Roberto Carlos, é preciso saber dizer adeus e seguir em frente. Mas como é difícil deixar para trás tantas coisas boas e pessoas tão incríveis.
Dizer adeus para meus host brothers & sister foi dificílimo. Chorei muito, abraçada a Sina, que ainda estava convalescendo do rotavírus. Cuidei dela como pude: fiz soro caseiro e canja. Troquei os lençois da cama, que estavam IMUNDOS, por conta da diarréia. A host mother mostrou que de mother não tinha nada. Deixou a menina completamente sem assistência. Sequer foi levar um copo de água para ela, ou perguntar se precisava de ajuda. Frieza britânica ou descaso? Ainda me arrepio quando lembro que ela se negou a emprestar o termômetro porque Sina iria infectar o objeto. Expliquei que bastava limpar com álcool. Ela não emprestou. E a mulher é enfermeira aposentada!!!
Sina foi, por dois meses, a filha que eu nunca tive. E foi uma experiência linda. Adotamo-nos imediatamente. Ela vai para o Brasil em março. Eu prometi que vou para a Alemanha assim que puder.
Quando estava partindo, Sina me deu um pacote e disse para eu abrir apenas quando estivesse longe. Não aguentou me ver ir embora e ficou no quarto, chorando.
Já saindo de Hastings, no carro, abri o pacote. Era um caderno em que ela colou muitas fotos minhas, desde a minha chegada, e com diferentes pessoas. Sina pediu a cada colega que conviveu comigo que escrevesse algo numa página. Depois colou uma foto minha com essa pessoa. Cada um deixou uma mensagem linda e especial. Foi emoção demais. Chorei como nunca havia chorado na vida. Soluçava ao ler as coisas lindas que escreveram para mim.
Disseram que transformei a vida deles.
Mal sabem eles o quanto transformaram a minha vida.
Mal sabem eles o quanto aprendi com cada um, a cada dia.
Meu irmão me escreveu um e-mail dizendo que percebeu uma mudança sutil em mim.
Mano, depois do que vi e vivi essa semana, a sutileza acabou. Definitivamente, sou outra pessoa agora.

terça-feira, 10 de novembro de 2009