Este texto é meu desabafo. Se você é americanista e acha que os Estados Unidos são o máximo, nem leia. [E nem adianta me criticar. É o meu blog e nele escrevo o que eu quiser. Você é livre para sair desta página imediatamente. Não vá reclamar depois. Eu avisei!]
Há uns 20 anos, ouvi de uma doutora em psicologia, durante uma palestra:
Quando uma criança vem correndo, bate na porta e cai, é muito comum os adultos darem tapas na porta e dizerem: "porta feia, machucou o nenê!" A criança, achando que a porta é a causadora do machucado, levanta, bate na porta e a culpa. Mas o fato é que a porta nada fez contra o bebê. Ele é que veio correndo e bateu na porta, causando o próprio machucado. Claro que não foi intencional, mas diante da repetição desse comportamento adulto, essa criança não criará uma consciência de causalidade, de causa-consequência de seus atos. E a tendência é chegar à vida adulta achando que é sempre uma vítima de portas "plantadas" no seu caminho.
Quantas vezes presenciei esse tipo de atitude em adultos, que encaram os outros como "portas", projetando as causas de todos os seus infortúnios fora de si, esquecendo-se de olhar para trás. Se assim fizessem, veriam que o que muitas vezes achavam que era uma provocação, um ataque era, na verdade, uma reação a algo que eles mesmos haviam feito.
Claro que há gente que gera problemas "gratuitamente", prejudicando os outros, mas não é disso que falo aqui.
Falo de atitudes que geram reações, nem sempre imediatas, e que, não sendo vistas em sua plenitude, causam terríveis reações (e em cadeia).
Lei de ação e reação - natural e imutável - jogue uma bola numa parede. Ela baterá e retornará em sua direção.
Hoje, especialmente, vejo homenagens às vítimas do atentado de 11 de setembro, em Nova York. Os americanos estão sendo apontados como "as maiores vítimas do mundo".
Não consigo engolir isso.
Realmente, as pessoas que estavam naquelas torres, naqueles aviões, morreram de forma terrível.
Porém... pouco se olha para o passado para entender o que está por trás daquele ataque...
Quem armou os terroristas, quem os incentivou, apoiou e deu formação, anos e anos a fio, antes desse atentado, foram os próprios americanos.
Esses mesmos americanos vêm dizimando (ou ajudando a dizimar), há anos, populações ou grupos - em nome de interesses políticos e econômicos. Patrocinaram atos terroristas e golpes de estado que também vitimaram muita gente inocente.
Espera-se que todos digam "porta feia, islâmicos feios, terroristas malditos...", mas quem foi que instalou essa "porta" no próprio caminho?
Sou contra a violência, contra o terrorismo Foi triste ver tanta dor e sofrimento. De verdade. Mas me nego a ajudar a transformar os americanos em mártires.
Eu me nego a dizer "porta feia" junto com eles e com outros tantos desmemoriados por esse mundo afora.
Eu simplesmente me nego...
"Eu nunca fui uma moça bem-comportada. Pudera, nunca tive vocação pra alegria tímida, pra paixão sem orgasmos múltiplos ou pro amor mal resolvido sem soluços. Eu quero da vida o que ela tem de cru e de belo. Não estou aqui pra que gostem de mim. Estou aqui pra aprender a gostar de cada detalhe que tenho." (Rachel de Queiroz)
domingo, 11 de setembro de 2011
terça-feira, 6 de setembro de 2011
A fanfarra e a pátria
O noticiário regional da TV mostrou os preparativos de algumas escolas para o desfile de 7 de setembro. Bandas, fanfarras, balizas... Voltei no tempo, na época em que eu era pequenina, tocava na fanfarra da escola e me sentia orgulhosa de desfilar, "pela pátria" (apesar de o conceito de pátria, para mim, ser muito abstrato na época), por minha família e por mim mesma, que me sentia toda importante tocando "caixa" e desfilando pelas ruas do bairro.
Entrei na fanfarra de um jeito meio torto. Havia um teste para tocadores de corneta. Eram muitos os candidatos e o professor fez um teste geral. Peguei uma corneta, tentei tocar, mas fui incapaz de extrair dela uma nota decente. Porém, eu queria tanto fazer parte da fanfarra que achei que poderia aprender, com o tempo, e me tornar uma grande corneteira. No teste geral, fingi que toquei. O som das outras cornetas cobriu os meus FUIIIIIIINS e FIUUUUUUUNS... E assim fui aprovada como corneteira. E também assim consegui permanecer - fingindo que tocava - por mais duas aulas, até que o professor percebesse que eu só tirava uns guinchos desafinados da corneta.
Graças aos céus, esse maestro era uma dessas pessoas que amava o que fazia, era compreensivo com as falhas humanas e tinha uma paciência imensa. Não me humilhou nem brigou comigo. Apenas me "demitiu" da fanfarra. Graças aos céus, minha mãe havia chegado mais cedo para me buscar e estava assistindo ao ensaio naquele dia e, ante meu total mutismo e minha extrema vergonha ao ser desmascarada, conversou com ele e pediu que me desse uma nova chance, com outro instrumento. Graças aos céus, também, uma desistência havia feito sobrar uma caixa (mais larga que o repinique) e assim pude fazer um novo teste, no qual me saí muito bem, o que me valeu o direito de permanecer na fanfarra.
(Caramba, eu havia esquecido completamente desse fato, mas o noticiário da TV me fez lembrar de tudo...)
A gente tocava músicas simples, normalmente as mais tradicionais para bandas e fanfarras escolares, aprendia com prazer e sentia que fazia parte de algo grande, maior que a gente, que a escola. Era "pela pátria".
Pátria... hoje te vejo tão maltratada por gente mal intencionada, e explorada por quem recebe votos para defendê-la, mas só defende seus próprios interesses.
Será que se, na época da escola, da fanfarra, a gente tivesse aprendido e entendido melhor o que significa pátria e qual é nosso papel nela, a gente saberia votar melhor e não teria dado tanto poder a tantos "ratos" que hoje roem a pátria? (Talvez nem houvesse tantos "ratos" no planalto...)
Minha expectativa, ao assistir ao noticiário hoje e ver as crianças se preparando para os desfiles, era ver uma turminha mais esclarecida. Quando a maestrina deu o comando para as crianças tocarem, achei que iriam executar alguma peça clássica, ou de algum compositor brasileiro, mas fui surpreendida por uma música de Lady Gaga...
(Não entendo. Por que alguém em sã consciência tocaria uma música americana - e de gosto mais que duvidoso - num desfile comemorativo da Independência do Brasil?).
Com tristeza, comecei a cantarolar uma canção do Cazuza:
"(...) Grande pátria
Desimportante
Em nenhum instante
Eu vou te trair
Não, não vou te trair..."
(Brasil)
"Feliz Aniversário de Independência", meu Brasil... (Ou, pra combinar com aquela fanfarra, "Happy Independence Day")
Entrei na fanfarra de um jeito meio torto. Havia um teste para tocadores de corneta. Eram muitos os candidatos e o professor fez um teste geral. Peguei uma corneta, tentei tocar, mas fui incapaz de extrair dela uma nota decente. Porém, eu queria tanto fazer parte da fanfarra que achei que poderia aprender, com o tempo, e me tornar uma grande corneteira. No teste geral, fingi que toquei. O som das outras cornetas cobriu os meus FUIIIIIIINS e FIUUUUUUUNS... E assim fui aprovada como corneteira. E também assim consegui permanecer - fingindo que tocava - por mais duas aulas, até que o professor percebesse que eu só tirava uns guinchos desafinados da corneta.
Graças aos céus, esse maestro era uma dessas pessoas que amava o que fazia, era compreensivo com as falhas humanas e tinha uma paciência imensa. Não me humilhou nem brigou comigo. Apenas me "demitiu" da fanfarra. Graças aos céus, minha mãe havia chegado mais cedo para me buscar e estava assistindo ao ensaio naquele dia e, ante meu total mutismo e minha extrema vergonha ao ser desmascarada, conversou com ele e pediu que me desse uma nova chance, com outro instrumento. Graças aos céus, também, uma desistência havia feito sobrar uma caixa (mais larga que o repinique) e assim pude fazer um novo teste, no qual me saí muito bem, o que me valeu o direito de permanecer na fanfarra.
(Caramba, eu havia esquecido completamente desse fato, mas o noticiário da TV me fez lembrar de tudo...)
A gente tocava músicas simples, normalmente as mais tradicionais para bandas e fanfarras escolares, aprendia com prazer e sentia que fazia parte de algo grande, maior que a gente, que a escola. Era "pela pátria".
Pátria... hoje te vejo tão maltratada por gente mal intencionada, e explorada por quem recebe votos para defendê-la, mas só defende seus próprios interesses.
Será que se, na época da escola, da fanfarra, a gente tivesse aprendido e entendido melhor o que significa pátria e qual é nosso papel nela, a gente saberia votar melhor e não teria dado tanto poder a tantos "ratos" que hoje roem a pátria? (Talvez nem houvesse tantos "ratos" no planalto...)
Minha expectativa, ao assistir ao noticiário hoje e ver as crianças se preparando para os desfiles, era ver uma turminha mais esclarecida. Quando a maestrina deu o comando para as crianças tocarem, achei que iriam executar alguma peça clássica, ou de algum compositor brasileiro, mas fui surpreendida por uma música de Lady Gaga...
(Não entendo. Por que alguém em sã consciência tocaria uma música americana - e de gosto mais que duvidoso - num desfile comemorativo da Independência do Brasil?).
Com tristeza, comecei a cantarolar uma canção do Cazuza:
"(...) Grande pátria
Desimportante
Em nenhum instante
Eu vou te trair
Não, não vou te trair..."
(Brasil)
"Feliz Aniversário de Independência", meu Brasil... (Ou, pra combinar com aquela fanfarra, "Happy Independence Day")
Assinar:
Postagens (Atom)