Às vezes meus pensamentos "gritam" tanto em minha mente, e se atropelam tão violentamente, que sacudo a cabeça na esperança de derrubá-los. Vã tentativa: eles sempre se seguram em minhas ideias...
Copyright © 2011 Crisna (Célia Cris Silva)
"Eu nunca fui uma moça bem-comportada. Pudera, nunca tive vocação pra alegria tímida, pra paixão sem orgasmos múltiplos ou pro amor mal resolvido sem soluços. Eu quero da vida o que ela tem de cru e de belo. Não estou aqui pra que gostem de mim. Estou aqui pra aprender a gostar de cada detalhe que tenho." (Rachel de Queiroz)
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Partidas...
A gente se refere à morte como "partida", descanso", "passagem", entre outros eufemismos... Quem morre não precisa de eufemismos ou metáforas. Nós, os que ficamos, é que precisamos suavizar a dor de nossas perdas.Nesse fim de semana dei adeus a uma "segunda mãe". A mulher que cuidou de mim enquanto minha "primeira mãe" trabalhava. A mulher que desfiava o peixe no meu prato para tirar todas as espinhas. (A primeira vez em que fui comer peixe sem ser preparado por ela, fiquei com uma espinha atravessada na garganta e fui parar no pronto-socorro).
Joaquina era seu nome de batismo. Maria para os amigos. Tia Maria para mim.
Eu fugia de casa e me escondia na casa dela. Ficava atrás do sofá ou dentro da despensa. Ninguém me tirava de lá. Só ela - e bastava um sorriso. (Tia Maria me ganhou com seu sorriso.)
Era a melhor doceira do bairro. Suas balas tipo alfenim eram famosas. E também as roscas, os bolos...
Assim como os quitutes que preparava, era uma pessoa doce e querida. Miúda, mignon, compacta. Uma alma grande e boa, que morava a apenas duas casas da minha.
Aliás, a família toda daquela casa era especial e me acolheu como parte dela. Tio Alonso (também já no andar de cima), Walter, Wanda. Pessoas presentes em minha infância de uma forma linda. As mais gostosas lembranças que tenho desse período (na "casa da lagartixa", em Santos) estão diretamente ligadas a cada um deles.
Tia Maria partiu, mas deixou um pouco dela em cada um que ficou. Como bem disse Guimarães Rosa, "pessoas boas não morrem, ficam encantadas"...
Joaquina era seu nome de batismo. Maria para os amigos. Tia Maria para mim.
Eu fugia de casa e me escondia na casa dela. Ficava atrás do sofá ou dentro da despensa. Ninguém me tirava de lá. Só ela - e bastava um sorriso. (Tia Maria me ganhou com seu sorriso.)
Era a melhor doceira do bairro. Suas balas tipo alfenim eram famosas. E também as roscas, os bolos...
Assim como os quitutes que preparava, era uma pessoa doce e querida. Miúda, mignon, compacta. Uma alma grande e boa, que morava a apenas duas casas da minha.
Aliás, a família toda daquela casa era especial e me acolheu como parte dela. Tio Alonso (também já no andar de cima), Walter, Wanda. Pessoas presentes em minha infância de uma forma linda. As mais gostosas lembranças que tenho desse período (na "casa da lagartixa", em Santos) estão diretamente ligadas a cada um deles.
Tia Maria partiu, mas deixou um pouco dela em cada um que ficou. Como bem disse Guimarães Rosa, "pessoas boas não morrem, ficam encantadas"...
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
O universo NERD / GEEK
Já se foi a época em que gostar com intensidade de ficção científica, computação, filmes antigos, Física, Matemática, xadrez e outros quetais era sinônimo de esquisitice. Muitos dos "esquisitos" de ontem são empresários bem sucedidos hoje. Os NERDS, ridicularizados em filmes, músicas e livros, ganharam status, são festejados, têm séries de TV e reality shows. Encantam e inspiram novas gerações.
O mundo evoluiu (ainda bem!).
Hoje, ser NERD (ou GEEK) está na moda.
Assumo que quando eu era adolescente, tinha gostos diferentes das demais jovens da minha idade. Não era nem um pouco apaixonada por Física, Matemática, xadrez, por isso nunca me considerei "nerd" (achava que somente os gênios das exatas recebiam essa denominação). Em compensação, era doida por ficção científica e ufologia.
Adorava Startrek (Jornada nas estrelas), Perdidos no espaço, Viagem ao fundo do mar, Túnel do tempo, Battlestar Galactica, Patrulha estelar, entre outras séries e filmes.
Lia Júlio Verne, H. G. Wells, Isaac Asimov...
Cresci. Desenvolvi outros interesses, segui por alguns caminhos mais convencionais, outros mais alternativos, e nunca deixei de gostar daquele mundo de "esquisitices" (como os mais tradicionais costumavam chamar).
Com o tempo e a maturidade, deixei definitivamente de me importar com a opinião dos outros. Resgatei antigos sonhos, antigos gostos e prazeres da infância e da adolescência.
Coroando essa fase "em busca da felicidade em pequenas coisas", fui premiada com uma participação em uma convenção trekker, em Curitiba, junto com meu grupo de dança. Cada dançarina tinha de se caracterizar de acordo com uma raça alienígena do universo Startrek. Escolhi ser uma andoriana.
Fiz uma pesquisa para conhecer a cultura e a aparência dos andorianos e comecei a fazer minha caracterização. O resultado, vocês podem conferir a seguir:
Quando minhas colegas e eu saímos na rua, a caminho do teatro, as pessoas olhavam e se espantavam. Algumas fugiam. Quando me viram, alguns transeuntes exclamaram: Smurfete! ou Avatar! ou, ainda, Shrek! [Vale lembrar que o Shrek é verde].
Um pregador de rua foi nos seguindo até o teatro, inconformado com nossa aparência. Quando chegou lá e se deparou com outros tantos alienígenas e pessoas vestidas como seus personagens favoritos de filmes de ficção, o homem estancou, calou-se, olhou tudo ao redor, deu meia volta e saiu. (Eu adoraria saber o que se passou naquela cabeça naquele instante.)
Fizemos nossa apresentação - elogiadíssima por sinal -, tiramos muuuuuuuitas fotos, conhecemos gente interessante, curiosa, inteligente, pra cima, sem medo de fazer o que gosta...
Ah! E ainda faturei o terceiro lugar no concurso de cosplay!
O melhor de tudo, no entanto, foi estar em contato estreito com meu lado criança e com o lado criança de várias pessoas.
A gente cresce, é verdade, tem responsabilidades, ocupações, problemas... mas não deveria perder o encanto que a infância oferece e a esperança de que em algum lugar, seja dentro ou fora de nós, existe um mundo onde todos são bem-vindos, são diferentes, sim - e têm DIREITO DE EXISTIR ASSIM MESMO - e, principalmente, têm o direito de serem o que quiserem ser, como quiserem ser, do jeito que quiserem ser ou que dão conta de ser... sem serem julgados, condenados e ridicularizados por isso.
Vida longa e próspera!
O mundo evoluiu (ainda bem!).
Hoje, ser NERD (ou GEEK) está na moda.
Assumo que quando eu era adolescente, tinha gostos diferentes das demais jovens da minha idade. Não era nem um pouco apaixonada por Física, Matemática, xadrez, por isso nunca me considerei "nerd" (achava que somente os gênios das exatas recebiam essa denominação). Em compensação, era doida por ficção científica e ufologia.
Adorava Startrek (Jornada nas estrelas), Perdidos no espaço, Viagem ao fundo do mar, Túnel do tempo, Battlestar Galactica, Patrulha estelar, entre outras séries e filmes.
Lia Júlio Verne, H. G. Wells, Isaac Asimov...
Cresci. Desenvolvi outros interesses, segui por alguns caminhos mais convencionais, outros mais alternativos, e nunca deixei de gostar daquele mundo de "esquisitices" (como os mais tradicionais costumavam chamar).
Com o tempo e a maturidade, deixei definitivamente de me importar com a opinião dos outros. Resgatei antigos sonhos, antigos gostos e prazeres da infância e da adolescência.
Coroando essa fase "em busca da felicidade em pequenas coisas", fui premiada com uma participação em uma convenção trekker, em Curitiba, junto com meu grupo de dança. Cada dançarina tinha de se caracterizar de acordo com uma raça alienígena do universo Startrek. Escolhi ser uma andoriana.
Fiz uma pesquisa para conhecer a cultura e a aparência dos andorianos e comecei a fazer minha caracterização. O resultado, vocês podem conferir a seguir:
[Fotos de Mariáh Voltaire, Helaine Marques, Cissa, Joel Strapassion e Bety Damballah]
Andoriana - alienígena do planeta Andor. Suas antenas são também seus ouvidos. Sua pele é azul devido à alta concentração de cobalto em seu planeta natal. |
Quando minhas colegas e eu saímos na rua, a caminho do teatro, as pessoas olhavam e se espantavam. Algumas fugiam. Quando me viram, alguns transeuntes exclamaram: Smurfete! ou Avatar! ou, ainda, Shrek! [Vale lembrar que o Shrek é verde].
Um pregador de rua foi nos seguindo até o teatro, inconformado com nossa aparência. Quando chegou lá e se deparou com outros tantos alienígenas e pessoas vestidas como seus personagens favoritos de filmes de ficção, o homem estancou, calou-se, olhou tudo ao redor, deu meia volta e saiu. (Eu adoraria saber o que se passou naquela cabeça naquele instante.)
Fizemos nossa apresentação - elogiadíssima por sinal -, tiramos muuuuuuuitas fotos, conhecemos gente interessante, curiosa, inteligente, pra cima, sem medo de fazer o que gosta...
Ah! E ainda faturei o terceiro lugar no concurso de cosplay!
O melhor de tudo, no entanto, foi estar em contato estreito com meu lado criança e com o lado criança de várias pessoas.
A gente cresce, é verdade, tem responsabilidades, ocupações, problemas... mas não deveria perder o encanto que a infância oferece e a esperança de que em algum lugar, seja dentro ou fora de nós, existe um mundo onde todos são bem-vindos, são diferentes, sim - e têm DIREITO DE EXISTIR ASSIM MESMO - e, principalmente, têm o direito de serem o que quiserem ser, como quiserem ser, do jeito que quiserem ser ou que dão conta de ser... sem serem julgados, condenados e ridicularizados por isso.
Vida longa e próspera!
Já viu ET mais meiga que essa? Dançando no Cabaret Trekker Grupo Damballah, ou melhor, Trekker Girls! |
Olá! Já não conheço você de algum quadrante? |
Não mexa com uma andoriana e uma romulana! |
Escrava de Órion, Denobulana, Andoriana, Borg, Cardassiana... Isso é que é diversidade intergalática! |
Duas andorianas (a da direita é uma rara andoriana de cabelos negros.) PARA VER MAIS FOTOS E OS VÍDEOS DESSA CONVENÇÃO STARTREK (agosto de 2011), ACESSE: www.jornadanasestrelas.com |
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
Já não se fazem mais Julietas como antigamente...
Quando uma mulher abre os olhos e vê realmente quem está ao seu lado, as consequências podem ser surpreendentes. Com vocês, meu mais novo miniconto...
Ficou no terraço à espera do amado. Uma noite, duas, três, quatro...
Finalmente, um mês depois, ele apareceu, como se nada tivesse acontecido. Diante do olhar úmido de espanto da moça, ele contou várias mentiras e alegou sérios problemas nos negócios. Ela com certeza deveria compreender e relevar.
Neo Giulieta
Copyright © 2011 Célia Cris SilvaFicou no terraço à espera do amado. Uma noite, duas, três, quatro...
Finalmente, um mês depois, ele apareceu, como se nada tivesse acontecido. Diante do olhar úmido de espanto da moça, ele contou várias mentiras e alegou sérios problemas nos negócios. Ela com certeza deveria compreender e relevar.
Tarde demais. Curada da cegueira que a paixão havia causado, ela viu que ele não era nada do que ela havia idealizado e, com um sorriso maroto, levou-o para o terraço e o empurrou desfiladeiro abaixo.
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
cooperação X competição
Um homem foi demitido - depois de 20 anos no emprego. Era bom no que fazia, mas foi dispensado porque a empresa buscava outro perfil de funcionário. Mais "agressivo", mais competitivo...
Competitivo... essa palavra me dá arrepios. Quem não supera os demais (doa a quem doer)... está fora.
Lembro-me de uma empresa de Assessoria em Recursos Humanos que foi fazer uma dinâmica com os funcionários da editora em que eu trabalhava. O grupo foi dividido em equipes e todas tinham de executar tarefas. Cada grupo recebeu um instrumento (régua, tesoura, caneta, papel...) . O segredo para realizar todas as tarefas a contento era compartilhar os instrumentos, mas era necessário haver uma equipe vencedora...
O que presenciei me chocou. Colegas contra colegas, quase tirando objetos das mãos uns dos outros para terminarem as tarefas antes e serem vencedores. O ditado: "Farinha pouca, meu pirão primeiro", ilustrava a situação.
Nenhuma equipe venceu. Todas tiveram falhas porque não cooperaram como deveriam.
Para ser cooperativo é preciso ver além de si mesmo. É preciso ver o outro como um parceiro (e não como um inimigo a ser vencido). É desejar uma melhoria coletiva. É chegar junto.
O que ocorreu naquele dia na editora, anos atrás, me mostrou que a competição abafa o lado mais humano dos seres humanos. Infelizmente, isso ocorre diariamente dentro e fora das empresas.
A competição vem ganhando força (estaria ela competindo com a cooperação?) e parece estar sempre acompanhada pelo medo de perder algo ou alguém (o emprego, o cliente para outra empresa...) Se você não está no topo... cuidado para não ser pisoteado! Se está, cuidado também - alguém pode te derrubar...
Nos esportes, algumas competições chegam ao cúmulo de levar à morte (de esportistas,de torcedores...)
Nas escolas, ensinam que a competição é saudável.
Observando o mundo ao meu redor, questiono isso.
A competição é um desejo de ser melhor que o outro (para se destacar), de deixar os demais para trás e se beneficiar de alguma forma (social, moral e/ou financeiramente, por exemplo).
É um dos "alicerces" do capitalismo e alguns acreditam que é uma mola que impulsiona o progresso...
Para mim, é uma mola que nos empurra para dentro de um grande compressor e nos joga num mundo em que dinheiro, status, bens materiais e egos inflados são mais importantes que as pessoas, seus sonhos e seus sentimentos.
Competitivo... essa palavra me dá arrepios. Quem não supera os demais (doa a quem doer)... está fora.
Lembro-me de uma empresa de Assessoria em Recursos Humanos que foi fazer uma dinâmica com os funcionários da editora em que eu trabalhava. O grupo foi dividido em equipes e todas tinham de executar tarefas. Cada grupo recebeu um instrumento (régua, tesoura, caneta, papel...) . O segredo para realizar todas as tarefas a contento era compartilhar os instrumentos, mas era necessário haver uma equipe vencedora...
O que presenciei me chocou. Colegas contra colegas, quase tirando objetos das mãos uns dos outros para terminarem as tarefas antes e serem vencedores. O ditado: "Farinha pouca, meu pirão primeiro", ilustrava a situação.
Nenhuma equipe venceu. Todas tiveram falhas porque não cooperaram como deveriam.
Para ser cooperativo é preciso ver além de si mesmo. É preciso ver o outro como um parceiro (e não como um inimigo a ser vencido). É desejar uma melhoria coletiva. É chegar junto.
O que ocorreu naquele dia na editora, anos atrás, me mostrou que a competição abafa o lado mais humano dos seres humanos. Infelizmente, isso ocorre diariamente dentro e fora das empresas.
A competição vem ganhando força (estaria ela competindo com a cooperação?) e parece estar sempre acompanhada pelo medo de perder algo ou alguém (o emprego, o cliente para outra empresa...) Se você não está no topo... cuidado para não ser pisoteado! Se está, cuidado também - alguém pode te derrubar...
Nos esportes, algumas competições chegam ao cúmulo de levar à morte (de esportistas,de torcedores...)
Nas escolas, ensinam que a competição é saudável.
Observando o mundo ao meu redor, questiono isso.
A competição é um desejo de ser melhor que o outro (para se destacar), de deixar os demais para trás e se beneficiar de alguma forma (social, moral e/ou financeiramente, por exemplo).
É um dos "alicerces" do capitalismo e alguns acreditam que é uma mola que impulsiona o progresso...
Para mim, é uma mola que nos empurra para dentro de um grande compressor e nos joga num mundo em que dinheiro, status, bens materiais e egos inflados são mais importantes que as pessoas, seus sonhos e seus sentimentos.
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