segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Partidas...

A gente se refere à morte como "partida", descanso", "passagem", entre outros eufemismos... Quem morre não precisa de eufemismos ou metáforas. Nós, os que ficamos, é que precisamos suavizar a dor de nossas perdas.Nesse fim de semana dei adeus a uma "segunda mãe". A mulher que cuidou de mim enquanto minha "primeira mãe" trabalhava. A mulher que desfiava o peixe no meu prato para tirar todas as espinhas. (A primeira vez em que fui comer peixe sem ser preparado por ela, fiquei com uma espinha atravessada na garganta e fui parar no pronto-socorro).
Joaquina era seu nome de batismo. Maria para os amigos. Tia Maria para mim.
Eu fugia de casa e me escondia  na casa dela. Ficava atrás do sofá ou dentro da despensa. Ninguém me tirava de lá. Só ela - e bastava um sorriso. (Tia Maria me ganhou com seu sorriso.)
Era a melhor doceira do bairro. Suas balas tipo alfenim eram famosas. E também as roscas, os bolos...
Assim como os quitutes que preparava, era uma pessoa doce e querida. Miúda, mignon, compacta. Uma alma grande e boa, que morava a apenas duas casas da minha.
Aliás, a família toda daquela casa era especial e me acolheu como parte dela. Tio Alonso (também já no andar de cima), Walter, Wanda. Pessoas presentes em minha infância de uma forma linda. As mais gostosas lembranças que tenho desse período (na "casa da lagartixa", em Santos) estão diretamente ligadas a cada um deles.
Tia Maria partiu, mas deixou um pouco dela em cada um que ficou. Como bem disse Guimarães Rosa, "pessoas boas não morrem, ficam encantadas"...

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