sexta-feira, 2 de abril de 2010

Dia mundial do livro infantil (2 de abril)

Acordei meio triste. Não, não é por causa da sexta-feira da paixão (se bem que comemorar a morte de alguém não é motivo para dar pulos de alegria). Já vou explicar o porquê dessa tristeza.
Editei livros por 23 anos. Agora me profissionalizei escritora de literatura -- infantil, juvenil e adulta. [Para quem não me conhece, tenho 6 livros infantis publicados. Um deles recomendado pelo Unicef e transformado em livro animado pelo Canal Futura. Também publiquei livros paradidáticos.]
Hoje, dia 2 de abril, é o Dia Mundial do Livro Infantil, em homenagem a um dos maiores autores de histórias para crianças, Hans Christian Andersen (foto acima). Minha tristeza é justamente por conta disso: que futuro podemos esperar para os livros infantis? Ou melhor: que futuro podemos esperar para as nossas crianças?
Como editora, sei que os livros infantis não chegam a todas as crianças, apesar dos programas governamentais de incentivo a leitura e de compra de livros. Sei também que nem todos os livros publicados para crianças são adequados para crianças. Há livros e LIVROS.
Como escritora, sei muito bem o que autores sentem quando recebem aquela carta das editoras dizendo: "Agradecemos o envio de seus originais, porém, sua obra não se enquadra em nossa linha editorial". Eu mesma redigi centenas de cartas como essa e devolvi pilhas de originais (alguns eram realmente horriplantes). O fato é: há bons autores e boas histórias que não conseguem seu lugar ao sol e péssimos livros infestando o mercado e as mentes em formação.
Livros infantis lotam prateleiras nas livrarias mas... quem os compra? Quem os lê? Poucos.
Em minhas viagens por esse Brasil afora, vi alunos do terceiro e quarto anos (8-10 anos) totalmente iletrados. Vi professoras que tiveram uma formação básica precária, incapazes de ler um texto em voz alta. Não liam. Não leem. Não farão seus alunos lerem. E me pergunto: O que podemos fazer para ajudar essa gente?
Quando começo a escrever uma nova história, tento me colocar no lugar de quem estará do outro lado, lendo o livro que estou criando. Penso em olhinhos arregalados, mãozinhas inquietas, sorrisos, sustos, suspiros de alívio... Mas sou atropelada pelas visões de escolas em ruínas, depredadas, sem condições de receber alunos de forma adequada. Vejo professores assustados, acuados, doentes e descrentes. Tanta coisa ruim vem à cabeça que pareço estar diante de um quadro fúnebre. "Desista", diz uma voz lá no fundo. "Você não vai mudar o mundo". A esperança se vai. Súbito, algo dentro de mim me faz lembrar de duas frases:
A primeira de Gandhi - "Seja você a mudança que você quer ver no mundo".
A segunda de Mario Quintana - "Livros não mudam o mundo. Quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas".
Então me dou conta de que escrevo - primeiramente - para mim mesma, para a criança que habita em mim, para que ela não morra diante de tanta negatividade e injustiça, para que ela não deixe de acreditar que é possível mudar, para que ela mantenha a escritora viva, acordada e operante. Essa criança parece ser a voz de outras tantas crianças - reais e simbólicas - que tenho encontrado pelo mundo.
Vou continuar escrevendo, apesar de algumas editoras não publicarem meus livros, apesar de editores inexperientes e arrogantes torcerem o nariz para meus textos, apesar de nem todas as crianças terem acesso aos livros, apesar de... apesar de... apesar de...
Continuarei escrevendo porque sei que posso ajudar a formar alguém que lê e que poderá vir a ser um multiplicador. Continuarei escrevendo porque acredito que a palavra pode curar e tem força. Quem tem domínio da palavra tem o poder de decidir, de mudar, de escolher...
Escolho continuar tentando...
Escolho continuar lutando...
Escolho continuar sonhando...
Escolhi ser escritora.
Escolho ser escritora
Escolherei ser escritora.
[Non eligor eligo - Não sou escolhida, escolho]

3 comentários:

  1. Oi Celia, tudo bem?
    Não quero parecer egoísta, mas, dia 2 de abril, fiquei muito FELIZ ao abrir meu blog e ler seus comentários carinhosos. Nooosssaaa!!!......Você é ESCRITORA!!! Que LINDO, que LUXO!!! Tentei responder e agradecê-la no mesmo dia, mas, tenho um problema muito sério com "aquela" peça que fica entre a cadeira e o teclado, sabe? Aliás, hoje pela manhã, escrevi um texto enorme prá você. Agora, adivinha??? Perdi tudo!!! Definitivamente, odeio computador. Não existe nada mais SEM POESIA que esse troço aqui. Farei um protesto no meu blog! De qualquer forma, não posso ficar parada no tempo, né? A única coisa que sei fazer, é escrever. Quero dizer: Sou alfabetizada. Sendo assim, resolvi botar na tela, o que vai pela minha cabeça. Mal sabia eu, que me renderia bons frutos. Muito menos, que me conectaria "Layouticamente", com uma ESCRITORA! Chiquééérrriiimmmooo!!! Temos outro ponto em comum, também não tenho filhos; por opição. Difícil, né? Tenho 3 SOFILHOS, que são minha VIDA! Assim como eu, eles adoram ler. A Renata, meu 1º GRANDE PRESENTE, está com 18 anos, A Jéssica 2º GRANDE PRESENTE, com 13. Minha irmã e meu cunhado, fecharam com chave de ouro, e há 8 anos, nos deram o 3º GRANDE PRESENTE: O Felipe. Aos 17/18 anos, li: Mutações, de Liv Ullman e ela, começava assim:-"Existe uma criança em mim, que se recusa a morrer."
    Já falei de VOCÊ para meus SOFILHOS, e em nome da MINHA criança e em nome deles. Por favor, NÃO pare, NÃO desista!!! PRECISAMOS de GENTE, como VOCÊ!!! Mantenha-se "VIVA, ACORDADA e OPERANTE"!!!
    "Apesar de..." todas as dificuldades que acredito, você passar; me parece que fez a "Escolha" CERTA!!!
    Torcemos pelo seu SUCESSO! Um GRANDE beijo,
    Com CARINHO,
    Tania Josefa.

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  2. Celia, preciso retificar "opção" que saiu com "i", e......ninguém merece, né??? Agora fico mais tranquila. Bj. Tania Josefa

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  3. Uau, Tania. Obrigada! Ganhei o dia! ["You made my day"!!!]
    É tão bom ler palavras de incentivo, de encorajamento. E você escreve tão gostoso! É uma colega escritora, com certeza!
    Temos muitas coisas em comum: adoramos escrever;
    tenho 4 sofilhas (adorei o termo!): Bruna (24 anos), Victoria (16), Luiza (13) e Letícia (12). Gostam de ler e são minhas incentivadoras. E, finalmente, também tenho um sério problema com aquela peça que fica entre a cadeira e o teclado!!!
    Falando sério... Suas palavras muito me honraram. Namastê!

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