quinta-feira, 8 de julho de 2010

Vida, mães, pais e envelhecimento

Um dia você se dá conta de que envelheceu. Até aí tudo bem. Envelhecer faz parte do "pacotão" chamado VIDA. As feições mudam, os cabelos ficam ralos, algumas dores oportunistas se anunciam, você percebe que tinha células adiposas em lugares "nunca dantes navegados"... Até aí tudo bem também. O difícil, algumas vezes, é encarar que, assim como você, as pessoas que você ama também envelheceram. Não falo das sobrinhas que até ontem andavam dando pulinhos e gritinhos, com as fraldas aparecendo debaixo dos vestidinhos floridos, que adoravam as bonecas e pulseiras com brilho que ganhavam e que hoje conversam sobre namorados, ficar, beijar na boca, etc., etc... Isso também faz parte do pacote ou, como diz meu irmão, "tá embutido no preço da passagem".
Quando seus pais entram na casa dos 80 anos e os problemas de saúde mais simples se tornam verdadeiras ameaças e a casa que durante anos foi reino e domínio deles se torna uma armadilha para tombos, quedas e outros acidentes, é preciso respirar fundo e aceitar que nada mais será como antes. [Já não era, mas você preferia evitar pensar no assunto.]
Sentada no chão do quarto de meus pais, fiquei olhando para o rostinho emagrecido e enrugado de minha mãe. Voltei no tempo uns 25 anos, quando um cardiologista vaticinou que ela teria poucos meses de vida. Todas as manhãs eu corria até o quarto para verificar se ela estava respirando. Foram meses de medo e tensão. Depois de um ano, relaxei. Depois de dois anos, esqueci.
Volto para 2010. Agora olho para meu pai que, graças a uma compleição de super-herói, passou praticamente ileso por um AVC. A taxa de glicose, no entanto, saltou: ele está, oficialmente, diabético.
Um amigo me disse: "Depois de uma certa idade, as coisas mudam. Vá se preparando..."
Impossível se preparar para o que quer que seja.
Só sei que curto cada instante com eles. Tenho vontade de agarrar os dois e ficar abraçada até eles se cansarem. Quero guardar o cheirinho deles. O olhar. O sorriso. Guardá-los, eternizá-los DENTRO de mim.
Outro dia pulei na cama deles como quando tinha 5 anos. Eles voltaram a ter 30. Rimos muito. [O riso rejuvenesce.]
Então, quando me olhei no espelho, vi uma mulher de mais de 40 anos que tinha virado menina de novo. E essa menina agora caminha lentamente, todas as manhãs, até o quarto dos pais para verificar se eles estão respirando...

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