Aquela piscada era como uma mensagem, que para mim adquiria diferentes significados - dependedo do dia, das emoções, de diferentes fatores, enfim.
Quando eu sabia que ela ia sair, corria para o banheiro para ver o "ritual da maquiagem".
Esse ritual que eu tinha com ela era na verdade um momento mágico. Eu era espectadora e cúmplice. A mãe ganhava contornos de deusa, de diva. E tão linda!
[Meu Deus, mãe, como você era, é e sempre será linda!]
Eu admirava aquela mulher na frente do espelho, com gestos tão precisos, me introduzindo sutil e lentamente nas artes de ser mulher... Meu maior desejo, naquele momento, era ser como ela.
Às vezes lamento não ter tido uma filha para compartilhar com ela esse ritual (se bem que, pensando bem, na era dos glosses, blushes, primers em que vivemos, talvez ela achasse um risco de batom vermelho nas bochechas algo tremendamente jurássico!).
A maquiagem, em si, não era o mais importante. O ponto alto desse ritual era estar com a mãe, aprender com ela, compartilhar um momento só nosso.
As meninas não se dão conta - enquanto ainda são meninas - do quanto aprendem a "ser" observando as mães. Algumas se espelham e se modelam nelas, construindo em si as mulheres que serão no futuro. Outras se afastam do modelo (Freud explica os porquês).
Esta é a Regina/Misamô/Yeya aos 15 anos. |
Dizem que estou cada vez mais parecida com ela...
Parece que meu desejo foi atendido!"
copyright © 2011 Célia Cris Silva
Este texto é uma homenagem aos 82 anos de Dona Regina (ou Misamô, como eu a chamo) ou Yeya (como os irmãos a chamam), minha mãe.
Ah, mãe, que saudade de quando eu era menina e você era "a minha ídola". A vida era tão menos complicada, tão menos sofrida. Sem tantas demandas e preocupações...
Cresci, fui para longe, fiquei independente, mas ainda trago comigo aquela menina que te olhava com olhos de encantamento e admiração.
[Ai, que saudade de ser criança e me aninhar em você!]