"Eu nunca fui uma moça bem-comportada. Pudera, nunca tive vocação pra alegria tímida, pra paixão sem orgasmos múltiplos ou pro amor mal resolvido sem soluços. Eu quero da vida o que ela tem de cru e de belo. Não estou aqui pra que gostem de mim. Estou aqui pra aprender a gostar de cada detalhe que tenho." (Rachel de Queiroz)
quinta-feira, 25 de março de 2010
Por essa nem o poetinha esperava...
São mulheres lindas, independentes, bem resolvidas e com trajetórias de vida interessantíssimas.
Uma delas, L., já é bisavó. [Mas não parece uma bisavó de jeito nenhum.] Dia desses estávamos conversando e ela me confidenciou que estava sendo cortejada por um "garoto" de 35 anos. Mas, para ela, a diferença de idade era um impedimento.
Fiquei danada e fiz meu costumeiro questionamento:
-- Ah! Quer dizer que se você fosse um homem de 60 e ele uma moça de 35, estaria tudo bem? Os homens podem ser mais velhos que suas parceiras, mas as mulheres precisam ser mais novas? Por quê, hein? Por quê?
Ela não sabia explicar.
Caprichei no discurso. Expliquei que vivemos numa cultura machista, que as questões de gênero ainda estão longe de serem tratadas com igualdade, que somos treinadas para reproduzir ideias subjacentes e que nos convencemos de que não temos o direito de namorar alguém mais jovem...
L. me olhava atenta, mas percebi que o discurso estava teórico demais.
Como ela é muito religiosa, enveredei por outro caminho.
-- Você não vivia pedindo em suas orações para arranjar um companheiro que te amasse e respeitasse?
-- Sim.
-- Então... suas preces foram atendidas! Você não precisa se casar com ele, se não quiser, mas aproveite esse presente que o Universo te mandou e viva plenamente esse momento de felicidade. A gente não rejeita um presente, não é mesmo?
Uma semana depois, reparei que L. estava diferente. O cabelo estava mais bonito, o sorriso não saía do rosto... Entendi na hora! Ela me contou, toda sem graça, que, depois de muita insistência do rapaz, aceitou sair com ele, que estão namorando e que ela está no "sétimo céu". Disse que nunca se sentiu tão amada e tão realizada sexualmente.
-- Ah! Valeu a pena se permitir viver essa paixão, né?
-- Pois é, mesmo que não dure, está sendo tão bom!
Quis dar um arremate poético à nossa conversa e citei o soneto de Vinicius de Moraes: "Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure".
Ela imediatamente me corrigiu e encerrou definitivamente a conversa:
-- Oh! Não! "Que seja infinito enquanto é duro!"
quinta-feira, 18 de março de 2010
Pai dengoso e receita de repelente caseiro
Um pai no hospital, ou uma mãe, é passável, mas os dois ao mesmo tempo? Brinquei com eles: atendimento por atacado dá desconto? Não riram.
Os exames do Sr. Francisco (meu pai), mostraram que não foi a dengue que o derrubou, e sim uma virose oportunista. A dengue o atacou, sim, mas foi tão light que ele nem percebeu. Valeu ter nascido em Salinópolis, ter comido muito peixe fresco, ter tomado muito açaí na cuia e ter nadado em rios de água limpa. Cresceu forte e sadio. Deus te abençoe, pai! Mesmo "dengoso" você foi incrível!
Mas nem todos têm a sorte de ter uma saúde como a do Sr. Francisco. Então, posto aqui uma receita caseira de repelente contra o Aedes aegypti (e contra outros mosquitos também), enviada por minha diligente prima Mônica. Como dizia a vovó Rosa: "É melhor prevenir do que remediar"...
Repelente caseiro contra o mosquito Aedes aegypti
[Ioshiko Nobukuni - sobrevivente da dengue hemorrágica]
* 1/2 litro de álcool;
* 1 pacote de cravo da Índia (10 gramas);
* 1 vidro de óleo corporal (100 ml)
Deixe o cravo curtindo no álcool por 4 dias agitando, cedo e de tarde; depois coloque o óleo corporal (pode ser de nenê, de amêndoas, de camomila, de erva-doce, de aloe vera etc.).
Passe só uma gota no braço e pernas e o mosquito foge do cômodo onde você estiver!
O repelente evita que o mosquito sugue o sangue e, assim, ele não consegue maturar seus ovos, o que vai diminuindo a proliferação dos mosquitos na região.
A comunidade toda tem de usar, como num mutirão. Se fizer isso organizadamente, desaparecem todos os mosquitos por inanição!
Mais informações sobre prevenção e tratamento da dengue podem ser encontradas no site:
http://plantarecultivar.blogspot.com/2009/09/dengue-prevencao-e-tratamentos.html
sábado, 13 de março de 2010
AMIGAS
Conhecemos pessoas ao longo de toda a nossa vida, mas algumas delas ficam, permanecem em nossas almas, gravadas pelo amor (ou pela dor), indefinidamente.
Amigas há quase trinta (30) anos, mas morando em cidades diferentes e cheias de afazeres, três amigas conseguiram se encontrar para comer uma pizza numa noite em que uma delas estaria em São Paulo. Passaram dos 40, mas quando se encontram parecem ter 13, idade com que se conheceram, nos tempos de colégio.
Abraços e beijos são dados sem medo nem constrangimento. Se alguém pensar que são lésbicas, vão rir muito. Ficam tanto tempo sem se ver que nenhuma opinião alheia é importante, nem conta. O que importa é matar a saudade, sentir o cheiro, sentir o toque, olhar nos olhos.
Uma se queixa: "Engordei 10 kg!" e as outras protestam: "Mas ficou curvilínea, gostosona, do jeito que o diabo gosta!". Risadas.
Outra comenta: "Trouxe chocolate pra vocês, mas do pequeno, pra colaborar com a dieta". "Que dieta? Quem disse que eu faço dieta?", retruca a terceira. "Não tem problema, a gente sempre diz que faz dieta, mesmo que não faça!", rebate a segunda.
E a noite se enche de risos, palavras suaves cheias de carinho, histórias, causos, pedidos de desculpa pelos longos silêncios, pelos aniversários esquecidos... Mas nada conseguiu abalar aquela amizade que já enfrentou furacões, terremotos, maremotos e outros desastres emocionais. Quando uma estava mal, as outras corriam pra ajudar, do jeito que davam conta - por carta, telefone, telepatia, presencialmente.
A pizzaria foi se esvaziando, mas a conversa estava longe de acabar: meses precisavam ser colocados em dia!!! Porém, cada uma tinha uma vida para tocar, uma com filhos e marido, outra com marido, outra consigo mesma...
Na hora de ir embora, a tristeza do "até um dia" bateu rapidamente, e foi substituída pela alegria da promessa de outro reencontro e da certeza de que cada uma habita, definitivamente, o coração e a mente das outras.
Mesmo longe, estão perto. E cada uma consegue ver, em si mesma, traços das outras.
São irmãs - provindas de úteros diferentes - que construíram, ao longo de quase 30 anos de amizade, uma irmandade que não se enfraquece nem com o tempo, nem com a distância. Uma delas sorri em silêncio. Tem certeza de que nem a morte será capaz de romper esses laços. Mas ela prefere não pensar nisso agora!
terça-feira, 9 de março de 2010
Vida de escritor...
Na foto, olho para o Jabuti, prêmio que ganhei em 2009, por conta de um livro paradidático, e lembro tudo o que passei para chegar até aqui. É inevitável pensar: "Como será o amanhã? Responda quem souber (Quem sabe é Deus). O que irá me acontecer? O meu destino será como Deus quiser..."
sexta-feira, 5 de março de 2010
Desabafo (2)
[É impressionante como os problemas e as dúvidas se assemelham!]
Há alguns anos, me ensinaram a fazer uma lista do que eu gostaria de encontrar em um homem ideal. Escrevi em tópicos, para que meu anjo da guarda pudesse encontrar o "Senhor Perfeito"e despachar diretamente do céu para mim:
- Companheiro
- Fiel
- Bom dançarino
- Inteligente
- Tarado
- Estável
- Sensível
- Bom amante
- Bonito
- Bem-sucedido
- Gostoso
- Louco por mim
Depois de algum tempo sozinha, e percebendo que meu anjo da guarda havia se demitido há tempos, revi a lista. Uma amiga me disse que eu era exigente demais. Retirei alguns itens e a lista foi reduzida para:
- Bom amante
- Louco por mim
- Estável
- Fiel
Que ele respire e seja funcional!
Do jeito que as coisas andam, começo a considerar o Quasímodo uma alternativa aceitável!
terça-feira, 2 de março de 2010
Memórias de infância
Lembro de meu avô lendo o jornal, às 5h da manhã, deitado na rede, enquanto minha avó flutuava pelos corredores. Quando ela falava, parecia que flores vinham junto com as palavras.
Tia Izabel, alta e magrinha, parecida com a vovó, deslizava pela casa. De fala mansa e suave, nunca se alterava. Tia Adelina era pura alegria. Sua risada contagiava e, quando entrava na sala, a enchia de cores.
Com os primos e primas vivi gostosas aventuras, caçando osga (lagartixa) e investigando fantasmas. Íamos tomar sorvete de cupuaçu e tapioca, açaí na cuia... Doces lembranças.
Nunca mais voltei a Belém. Os avós partiram, tios, tias e primos voltaram para suas cidades. Alguns foram para longe. Com alguns, mantive contato por telefone, depois e-mail, outros vejo amiúde.
Numa recente viagem, tive a oportunidade de rever tia Adelina - que vejo com relativa frequência - e tia Izabel e a prima Mônica, que não via pessoalmente há 32 anos.