Lembro de meu avô lendo o jornal, às 5h da manhã, deitado na rede, enquanto minha avó flutuava pelos corredores. Quando ela falava, parecia que flores vinham junto com as palavras.
Tia Izabel, alta e magrinha, parecida com a vovó, deslizava pela casa. De fala mansa e suave, nunca se alterava. Tia Adelina era pura alegria. Sua risada contagiava e, quando entrava na sala, a enchia de cores.
Com os primos e primas vivi gostosas aventuras, caçando osga (lagartixa) e investigando fantasmas. Íamos tomar sorvete de cupuaçu e tapioca, açaí na cuia... Doces lembranças.
Nunca mais voltei a Belém. Os avós partiram, tios, tias e primos voltaram para suas cidades. Alguns foram para longe. Com alguns, mantive contato por telefone, depois e-mail, outros vejo amiúde.
Numa recente viagem, tive a oportunidade de rever tia Adelina - que vejo com relativa frequência - e tia Izabel e a prima Mônica, que não via pessoalmente há 32 anos.
Ao chegar, vi que a prima continuava do mesmo jeitinho que eu lembrava: mulher-moça! Minha atenção foi atraída por uma figura pequenina, magrinha, que caminhava lentamente em minha direção. Tia Izabel, ainda de fala mansa e suave, vinha sorrindo, mas seus olhos me pareceram tristonhos. Abracei a tia e vi que cresci demais. Senti-me imensa e tive medo de quebrar seus ossos. [Na memória daquela menina de 11 anos, tia Izabel era muito alta.] Lembrei da vovó, daqueles dias em Belém, da família toda reunida. Fiquei tão emocionada que comecei a chorar.
Tia Adelina e a prima Mônica também se emocionaram. Ficamos abraçadas, as quatro, por breves segundos. Para mim, foi uma viagem de 32 anos no tempo!
Passamos horas incríveis juntas. Mônica me colocou a par de histórias da família que eu desconhecia.
Olhei para aquelas três mulheres tão fortes - e ao mesmo tempo tão frágeis - e senti um orgulho imenso de fazer parte daquela família.
Saí de lá com o coração alegre de uma garota de 11 anos e a certeza de que não vou esperar outros 32 anos para rever as pessoas queridas que fazem parte da minha vida.
[Na foto, da esquerda para a direita: Tia Izabel, Tia Adelina e Mônica: memória viva da família Silva.]
Nenhum comentário:
Postar um comentário