terça-feira, 2 de março de 2010

Memórias de infância

Quando tinha 11 anos, fui a Belém do Pará conhecer a casa em que meu pai cresceu. Toda a família paterna estava lá reunida. Tios, tias, primos e primas vieram de diferentes lugares para uma grande festa.
Lembro de meu avô lendo o jornal, às 5h da manhã, deitado na rede, enquanto minha avó flutuava pelos corredores. Quando ela falava, parecia que flores vinham junto com as palavras.
Tia Izabel, alta e magrinha, parecida com a vovó, deslizava pela casa. De fala mansa e suave, nunca se alterava. Tia Adelina era pura alegria. Sua risada contagiava e, quando entrava na sala, a enchia de cores.
Com os primos e primas vivi gostosas aventuras, caçando osga (lagartixa) e investigando fantasmas. Íamos tomar sorvete de cupuaçu e tapioca, açaí na cuia... Doces lembranças.
Nunca mais voltei a Belém. Os avós partiram, tios, tias e primos voltaram para suas cidades. Alguns foram para longe. Com alguns, mantive contato por telefone, depois e-mail, outros vejo amiúde.
Numa recente viagem, tive a oportunidade de rever tia Adelina - que vejo com relativa frequência - e tia Izabel e a prima Mônica, que não via pessoalmente há 32 anos.
Ao chegar, vi que a prima continuava do mesmo jeitinho que eu lembrava: mulher-moça! Minha atenção foi atraída por uma figura pequenina, magrinha, que caminhava lentamente em minha direção. Tia Izabel, ainda de fala mansa e suave, vinha sorrindo, mas seus olhos me pareceram tristonhos. Abracei a tia e vi que cresci demais. Senti-me imensa e tive medo de quebrar seus ossos. [Na memória daquela menina de 11 anos, tia Izabel era muito alta.] Lembrei da vovó, daqueles dias em Belém, da família toda reunida. Fiquei tão emocionada que comecei a chorar.
Tia Adelina e a prima Mônica também se emocionaram. Ficamos abraçadas, as quatro, por breves segundos. Para mim, foi uma viagem de 32 anos no tempo!
Lamentei ter ficado um período tão longo afastada delas.
Passamos horas incríveis juntas. Mônica me colocou a par de histórias da família que eu desconhecia.
Olhei para aquelas três mulheres tão fortes - e ao mesmo tempo tão frágeis - e senti um orgulho imenso de fazer parte daquela família.
Saí de lá com o coração alegre de uma garota de 11 anos e a certeza de que não vou esperar outros 32 anos para rever as pessoas queridas que fazem parte da minha vida.
[Na foto, da esquerda para a direita: Tia Izabel, Tia Adelina e Mônica: memória viva da família Silva.]

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