Fiquei alguns dias sem escrever por conta de questões... digamos... "femininas". Descobri que estava com um tumor no útero pouco antes de viajar para a Inglaterra. Quando retornei, fui fazer novos exames, e foram constatados 3 tumores. A cirurgia era inevitável: Histerectomia total vaginal - sem cortes externos.
Até aí tudo bem. A cirurgia não me impressionava. A questão é que algumas pessoas me diziam: "Xiiii, essa é sua última chance de ter filhos. Corra, antes que seja tarde!"
Corra? Ter filhos é uma maratona, por acaso? [Uma corrida contra o tempo, talvez...]
Nunca tive vontade de engravidar e ser mãe. Anos de terapia não me demoveram da ideia de cuidar da vida, da carreira e da auto-realização primeiro, no lugar de me dedicar à maternidade. Ouvi muitas vezes a pergunta: "O que tem de errado com você pra não querer filhos?" Fragilizada com a notícia dos 3 tumores (não 3 tenores, por favor), saí da clínica me fazendo essa pergunta: "O que tem de errado comigo pra eu não fazer questão alguma de engravidar?". Fui ao cinema, andei, conversei com o "Pai maior" e pensei muito.
Descobri que não há nada errado comigo. Eu simplesmente não sou do tipo que deseja engravidar. [Mas a ideia de ser mãe por meio da adoção é algo que me agrada muito.]
Não tenho aquela visão romântica de que ser mãe é padecer no paraíso. Tolice! Ser mãe é abrir mão de muitas coisas em prol de seres que nem sempre reconhecerão o seu valor. As mães são os seres vivos mais explorados do planeta, e parece que gostam disso! {Há algumas exceções.]
Por sorte, sou uma mulher inteligente, de opinião e com boa cabeça. Não me deixei abater pela opinião geral. Mas há muitas mulheres que sucumbem e acabam engravidando não por desejo e sim por pressão social ou cultural. Concordo que ser mãe é uma coisa incrível, mas para quem gosta. Para quem tem de abrir mão de sonhos e projetos, de realização pessoal e de uma vida economicamente mais equilibrada não deve ser o paraíso. Creio que basta olhar para as centenas de crianças maltratadas, largadas, negligenciadas... Será que atrás de cada uma delas não está uma mãe e/ou um pai infeliz? Alguém que não nasceu para a maternidade (e a paternidade)? Alguém que, lá no fundo, e sem admitir para ninguém, se pudesse voltar no tempo preferiria não ter filhos? É preciso muita coragem para assumir uma posição contrária à da maioria, ao senso comum, ao que é considerado sagrado e certo.
Disseram que sou egoísta, que só penso em mim. Muito pelo contrário! Foi por pensar na felicidade desse ser humano que merece uma mãe que realmente o queira que eu decidi evitar a maternidade.
Há mulheres cujo objetivo na vida é engravidar e se tornam mães incríveis (conheço várias). Elas têm meu total apoio e respeito. Para aquelas que, como eu, não brincavam de casinha nem de mamãe e filhinha e veem o útero como um órgão que só provoca cólicas, hemorragias e dor, aqui vai uma dica: antes de ser mãe, a mulher deve se realizar como uma mulher, uma pessoa. Ser mulher faz parte da essência. Ser mãe é uma opção.
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