segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Ter filhos ou não ter filhos?

Fiquei alguns dias sem escrever por conta de questões... digamos... "femininas". Descobri que estava com um tumor no útero pouco antes de viajar para a Inglaterra. Quando retornei, fui fazer novos exames, e foram constatados 3 tumores. A cirurgia era inevitável: Histerectomia total vaginal - sem cortes externos.
Até aí tudo bem. A cirurgia não me impressionava. A questão é que algumas pessoas me diziam: "Xiiii, essa é sua última chance de ter filhos. Corra, antes que seja tarde!"
Corra? Ter filhos é uma maratona, por acaso? [Uma corrida contra o tempo, talvez...]
Nunca tive vontade de engravidar e ser mãe. Anos de terapia não me demoveram da ideia de cuidar da vida, da carreira e da auto-realização primeiro, no lugar de me dedicar à maternidade. Ouvi muitas vezes a pergunta: "O que tem de errado com você pra não querer filhos?" Fragilizada com a notícia dos 3 tumores (não 3 tenores, por favor), saí da clínica me fazendo essa pergunta: "O que tem de errado comigo pra eu não fazer questão alguma de engravidar?". Fui ao cinema, andei, conversei com o "Pai maior" e pensei muito.
Descobri que não há nada errado comigo. Eu simplesmente não sou do tipo que deseja engravidar. [Mas a ideia de ser mãe por meio da adoção é algo que me agrada muito.]
Não tenho aquela visão romântica de que ser mãe é padecer no paraíso. Tolice! Ser mãe é abrir mão de muitas coisas em prol de seres que nem sempre reconhecerão o seu valor. As mães são os seres vivos mais explorados do planeta, e parece que gostam disso! {Há algumas exceções.]
Por sorte, sou uma mulher inteligente, de opinião e com boa cabeça. Não me deixei abater pela opinião geral. Mas há muitas mulheres que sucumbem e acabam engravidando não por desejo e sim por pressão social ou cultural. Concordo que ser mãe é uma coisa incrível, mas para quem gosta. Para quem tem de abrir mão de sonhos e projetos, de realização pessoal e de uma vida economicamente mais equilibrada não deve ser o paraíso. Creio que basta olhar para as centenas de crianças maltratadas, largadas, negligenciadas... Será que atrás de cada uma delas não está uma mãe e/ou um pai infeliz? Alguém que não nasceu para a maternidade (e a paternidade)? Alguém que, lá no fundo, e sem admitir para ninguém, se pudesse voltar no tempo preferiria não ter filhos? É preciso muita coragem para assumir uma posição contrária à da maioria, ao senso comum, ao que é considerado sagrado e certo.
Disseram que sou egoísta, que só penso em mim. Muito pelo contrário! Foi por pensar na felicidade desse ser humano que merece uma mãe que realmente o queira que eu decidi evitar a maternidade.
Há mulheres cujo objetivo na vida é engravidar e se tornam mães incríveis (conheço várias). Elas têm meu total apoio e respeito. Para aquelas que, como eu, não brincavam de casinha nem de mamãe e filhinha e veem o útero como um órgão que só provoca cólicas, hemorragias e dor, aqui vai uma dica: antes de ser mãe, a mulher deve se realizar como uma mulher, uma pessoa. Ser mulher faz parte da essência. Ser mãe é uma opção.

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