sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Como criar um delinquente

Dê uma arma de brinquedo para uma criança em todas as ocasiões festivas: Natal, aniversário, dia das crianças...
Deixe-a assistir aos programas de TV dos canais abertos, sem antes avaliar se são adequados, sem conversar sobre o que se vê nos filmes e desenhos.
Evite contato visual quando ela perguntar algo cuja resposta você não sabe e enxote-a da sala.
Não a abrace nem beije... Aliás, não demonstre afeto (porque isso diminui a hierarquia existente entre vocês).
Nunca demonstre que se importa com ela e com o que ela pensa e sente.
Não fale de assuntos delicados e controversos, forçando-a a ir buscar respostas e explicações em outras fontes.
Evite ao máximo pôr limites; evite dizer NÃO e dê tudo o que ela quiser.
Deixe-a solta e livre para fazer o que quiser. Afinal, ela precisa desenvolver autonomia!
Deixe para a escola a tarefa de educá-la. Mas quando a professora chamar a atenção para algum comportamento inadequado da criança, culpe a professora e a escola!
Dê sempre uma desculpa para qualquer comportamento dela e diga: "É apenas uma criança!". Repita essa frase até que ela complete 18 anos e seja tarde demais para salvá-la do seu descaso e da sua negligência.
Com um pouco de sorte, talvez você não seja a primeira vítima do monstrinho que você mesmo(a) criou.


Este texto foi escrito em homenagem a irresponsáveis pais, tios, padrinhos que insistem em presentear crianças com armas - contribuindo para a deturpação do que seja brincar - e a valorização da beligerância. Fui abordada por um garoto de uns 10 anos, imitando perfeitamente um assaltante de rua. Ele levantou a camiseta e me mostrou uma arma na cintura, enquanto ordenava:"Passa a grana". (Já fui assaltada assim e me espantei com a perfeição da imitação, mas não achei graça alguma.) Diante de minha total falta de cooperação com a estúpida brincadeira, o garoto sacou a arma e me deu um tiro à queima-roupa no peito. A arma, uma dessas modernas engenhocas de pressão, disparou um projétil com tamanho impacto que senti uma dor ardida no peito. Ficou uma marca vermelha na pele, onde a bala bateu. Teria atingido o coração, se fosse de verdade. Disse a ele que aquela arma machucava pessoas. A reação do menino? Disparou mais duas vezes. Reagi como qualquer vítima teria reagido: catei o moleque pelos cabelos e o botei pra correr. Torci para algum pai indignado vir tomar satisfação. Não veio.
Não há colete a prova de bala, nem escudo, que nos defenda da ignorância e da falta de bom senso...

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