No dia 6 de dezembro, às 4h da manhã, cheguei no aeroporto de Heatrow. Os guichês para o check-in só abriram às 5h. O vôo sairia às 6h40.
Quando fui fazer o check-in, o operador disse que eu não podia embarcar pois havia uma incorreção na minha passagem. Algo a ver com minha idade e a tarifa...
Tive de ir ao guichê de passagens e a atendente explicou que minha passagem estava errada, pois aquela tarifa era exclusiva para estudantes entre 12 e 35 anos. Como eu tenho 43 anos, não poderia utilizar aquela passagem. O sistema não aceitava fazer o check-in. Minha idade era inaceitável, estava fora da faixa etária permitida.
Expliquei que viajei do Brasil para Londres utilizando aquela mesma tarifa, pela Air France, e não tive problemas.
A atendente respondeu rispidamente: “Vocês [estrangeiros] têm de entender que as coisas aqui são diferentes. Não importa se você veio com essa tarifa. Ela está errada e você não pode utilizar essa passagem.”
Respirei fundo, engoli a vontade de dizer coisas desagradáveis para ela e disse: “O que deve ser feito, então?”. “A tarifa precisa ser corrigida.”
Como sei que tudo naquela terra gira em torno de dinheiro, perguntei qual era a diferença a ser paga. “350 libras” ela respondeu.
Respondi que não tinha o dinheiro e que precisaria falar com alguém da agência brasileira que fez a compra da passagem, para pedir ajuda na solução do problema. Depois lembrei que era madrugada de domingo, e provavelmente não conseguiria resolver nada. Perguntei se havia alguma outra forma de resolver o problema. Ela disse que não e que eu teria de esperar até segunda-feira para conversar com vocês.
Perguntei se a Air France pagaria um hotel para mim, pois eu não tinha mais onde ficar, nem dinheiro para pagar uma diária. A resposta dela foi negativa, claro!
Olhei nos olhos dela e disse: “Quer dizer que uma pessoa com mais de 35 anos não pode ser estudante? Eu sou realmente uma estudante. Você pode até achar que fiz a compra com intenção de enganar a companhia, mas não é verdade. A compra foi feita pela minha agência.” E mostrei minha carteirinha da Twin Towers, junto com toda a papelada que eu tinha. Ela disse que as agências cometem muitos erros, conferiu tudo e se convenceu de que eu não estava lesando a empresa. Mesmo assim, foi categórica: “você tem de comprar outra passagem.”
Nessa altura, o tempo tinha voado e percebi que iria perder o voo se não pagasse. Não tinha dinheiro para comprar outra passagem e estava me sentindo extremamente exposta e humilhada (tinha um monte de gente em volta, curiosa pra saber o que estava acontecendo). Não consegui segurar o choro. Disse a ela que toda aquela situação era extremamente embaraçosa, que eu estava me sentindo humilhada por ser alvo de suspeitas e não entendia por que havia dois pesos e duas medidas naquele caso. Se a empresa é uma só e as regras devem ser claras e únicas, por que a Air France me permitiu embarcar no Brasil? “Isso é discriminação. Sou considerada velha demais para ser estudante e parece que estou sendo punida por isso! Não tenho culpa se alguém cometeu um erro. Eu só quero voltar pra casa. Além disso, tenho de sair do Reino Unido pois só posso ficar aqui por 3 meses, e já esgotei esse tempo estudando.”
Ela respondeu que não criava as regras, só as seguia. Mas quando eu disse que estava ali há 3 meses, ela fez uma cara de “acho que vi uma luz no fim do túnel”, fez uma busca no sistema e achou uma tarifa para quem fica 3 meses ou mais. Disse que eu teria de pagar apenas 21 libras para fazer o acerto da diferença. Aceitei na hora, pois queria sair dali o mais rápido possível. Consegui voltar para o check-in faltando 2 minutos para o encerramento. Não queriam me deixar despachar as malas, pois cada uma pesava 30 kg. Expliquei que era permitido, sim, e que compras de passagens efetuadas no Brasil têm essa franquia de bagagens. Disso eu tinha certeza, pois conversei com várias pessoas da Air France no Brasil. O atendente foi confirmar essas informações e finalmente pude finalizar o check-in. Fui a última passageira a entrar no avião. Chegamos em Paris e fui fazer a conexão com o coração na mão, achando que a qualquer momento me chamariam pelo microfone e diriam que eu tinha de pagar mais alguma coisa... Não aconteceu (Ufa!)
Já embarcada na capital francesa, extremamente cansada e estressada, sentei na minha poltrona, na janela, e fui abordada pela minha "vizinha" que queria que eu trocasse de lugar com a amiga dela, que estava bem no meio de uma fileira tripla. "Não vou sair daqui", respondi. A mimada garota me deu cotoveladas o voo todo, mostrando que não tinha maturidade alguma, muito menos bom-senso. Desliguei a chave da vontade de enfiar a mão no narizinho empinado dela (só iria me complicar) e tentei curtir o restante da viagem e assistindo filmes e desenhos para me distrair.
No trecho de voo sobre o oceano Atlântico, uma forte turbulência colocou a tripulação em alerta. Os trancos foram fortíssimos e os passageiros estavam apavorados. Num dado momento, lembrei daquele voo da Air France que caiu, na viagem de ida. Pensei "Só falta esse voo cair na volta". Não se passaram nem 5 minutos e achei que iríamos cair, de verdade. O tranco foi tão violento que quase molhei as calças.
Pisar em solo brasileiro foi um alívio. Peguei minhas nada pequenas nem leves malas, fui ao Duty Free, passei pela alfândega sem problemas, fiz novo check-in (dessa vez na TAM) e tomei o avião para Curitiba. Tivemos de aguardar na pista por mais de uma hora. Finalmente, decolamos.
Voo tranquilo, sem sobressaltos.
A cidade estava iluminada, a temperatura, amena. Cheguei em casa exausta, dolorida e sentindo uma sensação de estranheza imensa. Ainda não voltei ao normal.
Ainda estou digerindo o que houve na volta, tentando entender que lição eu devo tirar disso tudo.
Talvez tenha sido um teste para o meu inglês. Talvez um teste para minha capacidade de resolver problemas. Ou talvez a prova da incompetência de alguém. Não sei. Já passou, mas me deixou marcas, naquele dia. Fui humilhada, exposta, tratada como uma farsante. Para processar a Air France eu teria de ter testemunhas da humilhação. Infelizmente, eu estava sozinha. Não tenho como provar.
O que eu posso fazer, de agora em diante, é boicotar a Air France (e farei isso, com certeza!) e usar o meu dom da palavra para alertar as pessoas e ajudar futuros passageiros a evitar situações vexatórias.
Talvez a lição a aprender é: tudo de ruim que você viver, reverta em algo bom para o maior número de pessoas possível. Então, pessoal, quando forem comprar passagens de avião, verifiquem todas as especificidades e chequem tarifas ditas especiais. Algumas são armadilhas.
E evitem a Air France...
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