Faz 2 meses que estou aqui e no entanto tenho a sensação de estar fora do Brasil há anos! Assisto aos canais brasileiros internacionais, vejo noticiários pela internet e alguns programas que costumava assistir no Brasil, e assim diminuo a sensação de "quebra de identidade" que acomete os que saem de seus países, afastando-se de sua cultura, sua família, seu grupo de apoio (os amigos), sua língua materna...
Mas a falta de comunicação me pegou de jeito. A primeira vez que fui ao mercado sem Marta só consegui comprar os produtos que tinham imagens nas embalagens. Voltei pra casa frustradíssima.
Cansada de me sentir analfabeta e analfaglota, decidi me matricular em um curso para estrangeiros e comecei a aprender holandês. A escola, na verdade, é uma ONG que ajuda imigrantes a aprenderem o idioma e assim passarem nas provas e nos testes que devem fazer para oficializar sua permanência e adquirir a cidadania holandesa.
Estudo com turcas, marroquinas, africanas, indonésias. A maioria delas é iletrada e nunca na vida frequentou uma escola. Mas falam holandês (duas delas, inclusive, vivem aqui há quase 20 anos).
Em uma das primeiras aulas, tínhamos de mostrar, em um mapa-mundi, de onde somos (cidade, país e continente). Várias delas nunca tinham visto um mapa e não sabiam o que fazer. Mas sabiam o que dizer. Eu não sabia o que dizer, mas sabia o que fazer. De nada me valeu, naquele momento, o conhecimento linguístico que trazia na minha bagagem. Era necessário um outro, que eu ainda não possuía. Senti-me irmanada com aquelas mulheres. Cada uma de uma cultura diferente, com trajetórias diferentes, expectativas diferentes, saberes diferentes, habilidades diferentes, dificuldades diferentes, porém, com uma vontade semelhante (aprender).
Não há mesmo escola como a vida...
Deixando a seriedade de lado, coloque no seu passaporte - MUDA. Pode não ser honesto, mas pode lhe ajudar em situações difíceis como comprar uma banana na feira, ou apontar sua localização no mapa.
ResponderExcluirAgora com mais seriedade, parabéns. Aprender uma língua nova sempre foi um sonho meu. Realize-se Célia, a vida é muito curta para ficar postergando nossas aspirações.
Beijos
Clóvis